Teu grito primeiro alerta
Do dia a clarear
«Existo» repetes tu
Sempre sempre sem parar
As rolas da minha infância
Em poema a recitar
Inocentinhas gemiam
Humildes e sem falar
E o mundo a rolar
Com um povo a temer
Meio século a passar
E a rola a gemer
Grita o povo grita a rola
Eu também quero gritar
«Existo» gritamos todos
Neste tempo a rolar
No alto daquele pinheiro
Onde ela está a gritar
Acerta o tiro certeiro
Para aquela voz calar
Jaz a rola inocentinha
No duro daquele chão
Ninguém cala aquele coro
À volta do seu caixão
«Existo» e tenho direito
De gritar como eu quiser
Cansado está o povo
De dobrar e de gemer
Poesia zed, 31 de Julho 2015
E quando a rola cai ninguém quer saber! Não faltam rolas...
ResponderEliminarGritemos! Juntemos o nosso grito ao da Rola. Que se torne um grito ensurdecedor. E acorde o povo inteiro. E que a Rola não deixe cair.
ResponderEliminarAo ler o grito da Rola, poema tão bem conseguido, pela sua criadora, Maria José, poeta, pedagoga e investigadora, senti uma grande comunhão. Acabava de escrever, um outro grito, "estranha paz," e onde peço à Pomba um voo em busca da liberdade de dizer NÃO, no fim do verão. Um NÃO republicano, em 5 de outubro, já fim de verão.
ResponderEliminarE penso que a Zé vai gostar que o transcreva, aqui. No seu blogue. Está como saiu da pena, sem qualquer hesitação.
Estranha Paz
Oh pomba da paz!
Paz ao jeito de maioria silenciosa!
Paz calada.
Paz envergonhada
Paz iludida
Paz sem rosto
paz podre. A paz!
Não faz bem nem faz mal.
A paz branca.
Disseram-lhe, vejam bem:
És a Paz.
Essa brancura, pomba, tem preço.
Carregas a paz.
Os donos do mundo, te ordenam.
Tão branca, és! És pura. És virgem.
Aceitas o veredito.
Voas. Mas sentes as asas presas.
Como um peso. Presas.
Voos, somente, os calibrados.
Tens os dias contados.
E não ousas.
Esperas, debicas. Saltitas.
O milho, dádiva das crianças. Inocência. Branca. De alvura. Ofereçem-te pão.
Correm atrás de ti, pomba.
Não entendem.
Estás escrava! Dos donos do mundo. Deste mundo pequeno.
Pomba branca de paz, calada.
Como tu, estamos presos.
De grades, é certo, libertos.
Aparência: liberdade branca?
Diz não, pomba branca.
Submerge o medo debaixo das tuas asas. São tuas. Só tuas.
Voa. Teu voo, agarra.
E voa, longe, muito longe.
Voo planado,
Voo batido ou remado.
Voo picado
Voo ondulado.
Bebe liberdade. Despeja o medo.
E, regressa, depressa.
Volta, desenvolta. Asas soltas.
No combate ao teu e nosso aprisionamento.
Comunidade livre. A decisão.
Sem medo.
Vençámo-lo: no fim do verão,
um rotundo e republicano NÃO.
31jul15
Margarida
Cadeia de textos em mentes encadeadas
EliminarE neste momento preciso a rola selvagem lança o seu grito real
Enquanto a pomba voa ainda sobre o lamaçal
Que ela deixe de arrulhar
Que grite sem parar
Que navegue longe
Que sacuda as asas
Até a liberdade alcançar