Bordo o avesso da colcha que
cobre a vida
Um ponto atrás do outro em pé de flor silvestre
Jardim singelo por onde a agulha passeia
Em trabalhos de mulher penélope tece a manta
Da espera ardilosa de um tempo a preencher
Canta a cotovia depois a cigarra
Pia o pardal cai a neve e é natal e há-de ser verão
Talvez o vejas ou não
poesia zed
Anna Ancher (artista Danes, 1859-1935) La
Esposa del Pescador de Costura
PENÉLOPE
Desfaço durante a noite o meu
caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral , Potugália
Editora, p.80