- Estou a ler um texto teu de 2000, sobre a escola inclusiva.
- Ah! As escolas, como é o caso dessa em que eu trabalhava, não se importam de colocar essa parangona no seu projecto educativo, mas não querem dar passos decisivos para atingirem essa meta.
- Não admira. Uma escola inclusiva pressupõe uma sociedade inclusiva, nem que seja numa miragem utópica. E quem a quer?
- Acho que tens razão. Mas poderá um humanista não trabalhar para que ela se torne uma realidade?
- Depende do conceito de humanista. Quantos humanistas confessos defendem uma escola exclusiva, a dos melhores, a dos adaptados ao sistema, propondo a exclusão dos outros? E isso em nome do bem da maioria.
- Só que a maioria não é a totalidade... Qual o projecto educativo para os inadaptados do sistema escolar? Fazer turmas ou escolas-guetos de inadaptados?
- Isso parece-me péssimo. Juntar problemas não os resolve, complica-os.
- Penso que a escola inclusiva ainda pertence ao desejo de uma minoria de educadores.
- Permite-me que leia parte do último parágrafo do teu texto, para que se possa comentar a nove anos de distância: «A integração e a inclusão produzem-se em ambiente de inovação que é sempre um processo de tensão entre a vontade de mudar e o imobilismo. Ideais e hábitos lutam entre si».
- Claro que, nesse âmbito, existe uma luta, dentro de cada professor e fora dele.Penso que, nessa escola, aconteceu e continua a acontecer uma batalha campal, tal como previra. Porque muito está em causa, tal como Miguel Zalbaza escrevia em «Diversidade e Currículo escolar», nomeadamente a instituição.