O professor octogenário Daniel Serrão publicou, na revista Brotéria de Janeiro passado, um artigo intitulado «Os Seniores – um novo estrato social emergente». Nele define seniores como os seres humanos aposentados que se sentem livres e capazes de desempenharem um novo papel na sociedade. Cita exemplos como o centenário Manuel de Oliveira, Ruy de Carvalho e Artur Agostinho. É falso que os dois primeiros tenham um novo papel na sociedade. Eles foram e são óptimos na sua profissão e é nela que trabalham. E que continuem por muitos anos. São um excelente exemplo para a humanidade. Daniel Serrão não mencionou mulheres, mas poderia ter escrito Eunice Muñoz e Simone de Oliveira, por exemplo.
É com seniores independentes, activos e interventivos que, segundo o autor, está em formação o «estrato social emergente». Que se espera deles? «Uma mudança de ramo», pergunta e responde o Professor. Pelos exemplos apontados pode não ser preciso mudar de ramo; o sénior pode ficar no mesmo ramo (a ideia de ramo leva-nos até à árvore primordial, para dar o recado: cada macaco pode ficar ou não no seu galho).
Segundo as projecções apontadas no artigo, este ano seremos dois milhões de pessoas com mais de 65 anos. O Professor espera que os referidos seniores venham a criar uma cultura de vanguarda, partindo do princípio que a cultura sénior é uma cultura diferente da outra. Penso que não é assim. Quer Manuel de Oliveira quer José Saramago não precisaram de fazer um corte quando chegaram aos 65 anos. É evidente que os dois referidos artistas têm uma profissão liberal. Entende-se o pensamento do autor visionando a aposentadoria da função pública. E não se pode deixar de valorizar a intenção do autor no apelo aos seniores de boa vontade e com os requisitos formulados para não se retirarem da vida activa, uma vez que estão reunidas as condições (libertos do horário e do poder), para que, sem cinismos, possam «propor caminhos novos e lutar por eles, ao lado dos jovens que consigam seduzir».