Fernando Pessoa: «a vida não basta»
A Leyla Perrone-Moisés
As duas comungamos a obra de Fernando Pessoa.
Eu, como leitora e estudiosa, a Leyla, muito para além disso, como crítica
literária.
Foi a afinidade pessoana que colocou a sua
obra na minha mão, numa busca em alfarrabista, aquando de uma visita a Lisboa.
Acontece que o proprietário dos alfarrábios da Livraria Antiga do Carmo é um
bibliófilo conhecedor de cada livro daquele imenso amontoado. Dando-lhe a
conhecer o que procurava, ele orientou a minha busca. E foi aí que surgiu a
obra:
Nada de mais, dirá. A surpresa veio ao virar
das folhas.
Na primeira folha, a lápis, está o preço: 15€;
na segunda folha, o título; na terceira, o nome da autora, o título e a
editora; no verso dessa página, encontra-se a folha de rosto e fica-se a saber
que estamos perante um exemplar da 1ª edição, datada de junho de 1982,
copyright by Livraria Martins Fontes Ltda., São Paulo, 1982, e que a capa tem
por base a obra de Costa Pinheiro, «Fernando Pessoa Ele-mesmo com a minha
chávena de café, um pincel e um lápis meus e a sua caneta», com arranjo gráfico
de Adelmo M. Suzuki. Qualquer leitor pode confirmar os dados impressos com a
obra na mão. Até aqui nada de novo. Segue-se a folha da dedicatória: «Em
memória de Casais Monteiro, para Mabi, João Paulo e Cláudio».
Por baixo destes dizeres, em bela e ampla
caligrafia desenhada pela mão da autora, encontra-se a seguinte dedicatória:
«Para
Jacinto do Prado Coelho,
com
quem todos os pessoanos têm aprendido tanto,
a
admiração e a amizade
da
Leyla
Perrone Moisés
S. Paulo, 4 de Agosto de 1982».
Nem podia acreditar que tinha em mãos uma primeira
edição autografada pela autora e com dedicatória a tão ilustre pessoano e sábio
literário. Perguntava-me como teria ido parar tal livro ao alfarrabista.
Estávamos em 2006. Jacinto do Prado Coelho morrera em 1984. Restava o filho.
Passou-me pela cabeça telefonar-lhe a dar conta do achado. Contudo, seria
constrangedor, caso ele tivesse vendido parte do espólio. Acarinhando a obra,
li-a e vou relê-la, tecendo alguns comentários.
I. Ainda o paratexto
1. O título da obra de Leyla Perrone-Moisés, Fernando
Pessoa – Aquém do eu, além do outro, levanta polémica com Jacinto do Prado
Coelho.
Para Leyla, «todo trabalho sobre Fernando
Pessoa é uma indagação sobre a identidade». A autora afirma que «Pessoa
“ele mesmo” é um lugar vago, mas as
questões levantadas pela coterie Pessoa são uma sobra». E explica que
ele se anulou como pessoa, ficando «aquém do eu»; ficando «além do outro» ao
aventurar-se na experiência da alteridade absoluta, perdendo a possibilidade de
encontrar a unidade. Esta tese contraria a de Jacinto do Prado Coelho,
explanada na obra Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (1ª edição em
1949), que passo a citar: «A minha tese é outra: a de que a própria diversidade
(sinal de portentosa riqueza espiritual) vale como expressão dramática de
identidade. Se “fingir é conhecer-se” - é também dar-se a conhecer». Prado
Coelho deu o devido valor às declarações de Fernando Pessoa, ao explicar, em
carta, a João Gaspar Simões: «O ponto central da minha personalidade como
artista é que sou um poeta dramático, tenho, continuamente em tudo quanto
escrevo, a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo. Voo
outro – eis tudo». E acrescentou: «Desde que o crítico fixe, porém, que sou
essencialmente poeta dramático, tem a chave da minha personalidade […]».
2. A obra de Leyla é dedicada em primeira instância
à «memória de Adolfo Casais Monteiro» (Porto, 4 de Julho de 1908 – Julho de 1972), de quem Leyla foi aluna,
certamente na Universidade Estadual de S. Paulo, pois ele, como tantos outros
intelectuais opositores ao regime salazarista, refugiara-se no Brasil, em 1954.
Com o professor, Leyla diz ter aprendido aquilo que Pessoa traz como inovação à
poesia portuguesa: «a expressão intelectual de uma emoção, a troca dos
vocabulários da emoção e da inteligência, uma nova linguagem, que já não era a
da razão, nem a do sentimento, que aludia a um plano até aí ignorado pela nossa
poesia, e – coisa de primacial importância – a voz mais musical que jamais nela
se fizera ouvir».
2.1. Adolfo Casais Monteiro trocou correspondência
com Fernando Pessoa, considerada essencial para o estudo da obra pessoana. Ele é
o destinatário da célebre carta do poeta a explicar a criação dos heterónimos,
datada de 13 de Janeiro de 1935, da qual transcrevo:
«(Em eu começando a falar — e escrever à máquina é para mim falar —
, custa-me a encontrar o travão. Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou
entrar na génese dos meus heterónimos literários, que é, afinal, o que V. quer
saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu
à luz).
Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à
ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso
irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia
regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal
urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido,
sem que eu soubesse, o Ricardo Reis).
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma
partida ao Sá-Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada,
e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade.
Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente
desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e,
tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E
escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não
conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter
outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se
seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de
Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre.
Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram
esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a
fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando
Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto
Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa
contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva
e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o
Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa
altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis,
surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever,
sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos —
a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em
moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro
de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece
que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou
independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu
puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá
como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria» (http://arquivopessoa.net/textos/3007).
2.2. Jacinto do Prado Coelho e Adolfo Casais Monteiro polemizaram
como críticos sobre questões literárias pessoanas, a partir da obra Unidade
e Diversidade em Fernando Pessoa. Disso nos dá
conta o autor dessa obra no texto apenso à 9ª edição, intitulado «Notas à
margem de alguns livros sobre Fernando Pessoa posteriores ao presente ensaio».
Prado Coelho considera cómoda a posição daqueles que, «declarando inefável a essência
de toda a poesia verdadeira e proclamando Fernando Pessoa, com perfeita
justiça, um grande e genuíno poeta, ficam dispensados de exercer sobre a obra
de Pessoa a inteligência crítica» e decretam a nulidade de todos os esforços de
compreensão por outros realizados, limitando-se, assim, à voz, à música, à
linguagem. Neste grupo incluia Casais Monteiro, que criticara a sua obra,
sobretudo a parte respeitante a Caeiro. Valorizando significante e significado,
Prado Coelho termina essa parte textual com o destaque do sentido poemático através
de uma citação que ouvira a Roland Barthes: «a missão do poeta não é dar
um sentido ao mundo, é, sim, encher o mundo de sentido».
Leyla apoia e desenvolve a tese de Casais
Monteiro e, tendo por texto oculto possível a tese de Prado Coelho, referida
como «o logro dessa unidade subjetiva», ela escreve: «Apesar das respeitáveis
tentativas críticas de recuperar, em Pessoa, uma unidade e um centro, o
convívio com sua poesia revela, a cada passo, que essa unidade e esse centro
estão nele irremediavelmente negados». Contrapõe então «as linhas» de Jacques
Lacan, evitando o «biografismo positivista» de Gaspar Simões e dando relevo
sobretudo ao texto literário que «como diz Lacan não é mero “arranjo de restos
biográficos”; a única psicografia válida é a que está na obra de Pessoa».
Acentua a autora que a leitura lacaniana de Pessoa contradirá outras leituras e
ela se oporá a uma leitura psicológica, baseada na unidade e na verdade
profunda do indivíduo, preferindo a psicanálise de Freud lida, interpretada e aplicada por Jacques Lacan.
3. A epígrafe
da obra de Leyla transcreve de Fernando Pessoa: «A literatura, como toda a
arte, é uma confissão de que a vida não basta».
A dita frase pertence ao texto de Fernando
Pessoa que passo a transcrever:
«IMPERMANENCE - A mesquinhez
IMPERMANENCE
A
mesquinhez, a estreiteza imaginativa são os vícios definidores da nossa época.
Somos incapazes de escrever, ou de querer escrever, ou de saber ler sem escrever, epopeias. Em compensação, escrevemos romances.
O romance é o conto de fadas de quem não tem imaginação. Todos nós, ou inferiores, ou em momentos de inferioridade, sonhamos com atitudes (...) da vida real. Sonhamos também, é certo, com o longínquo; mas isso [...] é, em todo o caso, a poesia da mesquinhez. Tout notaire, dizia G. Flaubert, a rêvé de sultanes. O ajudante de notário, porém, sonha apenas com uma sucessão de acontecimentos [ ?] em que entra a vizinha possível, o marido dela, ele galã, e assim por diante.
A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta. Talhar a obra literária sobre as próprias formas do que não basta é ser impotente para substituir a vida.» (http://arquivopessoa.net/textos/3582).
Somos incapazes de escrever, ou de querer escrever, ou de saber ler sem escrever, epopeias. Em compensação, escrevemos romances.
O romance é o conto de fadas de quem não tem imaginação. Todos nós, ou inferiores, ou em momentos de inferioridade, sonhamos com atitudes (...) da vida real. Sonhamos também, é certo, com o longínquo; mas isso [...] é, em todo o caso, a poesia da mesquinhez. Tout notaire, dizia G. Flaubert, a rêvé de sultanes. O ajudante de notário, porém, sonha apenas com uma sucessão de acontecimentos [ ?] em que entra a vizinha possível, o marido dela, ele galã, e assim por diante.
A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta. Talhar a obra literária sobre as próprias formas do que não basta é ser impotente para substituir a vida.» (http://arquivopessoa.net/textos/3582).
É então a demasia que é preciso escrever para que haja literatura.
Pessoa afirma: «O encontrar em tudo um além – é justamente a mais notável e original feição da nova poesia portuguesa».
Mário
de Sá-Carneiro e Pessoa trabalham a amplificação para atingirem o mais além
impossível. A «amplificatio» é considerada por Lausberg como «o meio principal para obter credibilidade» – com a consciência
de que os «objectos da amplificação são os pensamentos, com repercussões sobre
a formulação linguística». Pessoa explica como
conseguir a “amplificação”, identificada com a «total largueza espiritual»:
«desdobrando-lhe as inconscientes tendências filosóficas ou religiosas em
detalhes intelectuais e espirituais». Em processo de amplificação interior e
artística, em busca da totalidade, o excesso de riqueza interior sentida pelos dois poetas
transportava-os para «a arte de sonho», teorizada por Pessoa como sendo «a arte
moderna».
· Sá-Carneiro, em carta a Pessoa de 10 de Março de 1913, escreve «mais dois sonhos incluirei no Além», e a 16 desse mês, escreve: «Atualmente trabalho no Além que dentro de três semanas deve estar concluído».
· Almada Negreiros escreve em Cena do Ódio, para o Orpheu III:
« eu quero sempre muito mais
e mais ainda
muito pr'além-demais-Infinito... »
·
O
referido poema de Almada foi dedicado a Álvaro de Campos, que escreveu:
«Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
[..]
Multipliquei-me para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
[…]»
(http://arquivopessoa.net/textos/821).
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
[..]
Multipliquei-me para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
[…]»
(http://arquivopessoa.net/textos/821).
A demasia extravasa-se no texto poético.
De acordo com Shelley, em Defesa da Poesia,
os poetas, num tempo uno, seriam como «os
espelhos das gigantescas sombras que a futuridade lança sobre o presente»
(SHELLEY, 1897: 98).
A jeito de
conclusão da primeira parte, conto que me surpreendi com a polémica encontrada entre
os dois críticos pessoanos, talvez a origem do encontro leitora e obra-alfarrábio
na Livraria Antiga do Carmo. E reafirmo que a busca é um valor em si na
condução do lema «aprender até morrer».
II. Texto
O primeiro
capítulo intitula-se «Pessoa Ninguém?». A autora desenvolve essa ideia
retirando-lhe a interrogação. Eu afirmo que Pessoa não pode ser Ninguém. Ele é
um campo vasto de interioridade em ampliação contínua pelo exercício
intelectual que o leva sempre mais além, pois esse é o seu objetivo – o mais
além impossível. A interioridade trabalha-se e ele trabalhou-a intensamente até
que acontecesse o inimaginável para o homem comum. E Pessoa, que teve duas
pátrias, escolheu definitivamente a sua: a língua portuguesa, a do padre
António Vieira. Leyla reconhece-lhe a pátria, por conseguinte, reconhece o
cidadão, gerador da literatura pessoana. Esse cidadão, chamado Fernando Pessoa,
vindo do Império Britânico, em 1905, assume que em Portugal há um deficit
literário a preencher e que será essa a sua missão – a missão da «nova poesia
portuguesa». tendo como precursora a poesia de Antero de Quental e como direção
uma «nova Renascença Portuguesa». Traça o projeto em 1912, nos artigos sobre «a
nova poesia portuguesa», e cumpre-o. A meu ver essa é a unidade de Fernando
Pessoa: uma missão de cidadania literária cumprida por Fernando Pessoa, cidadão
da Língua Portuguesa. Ele sabia que os impérios caem, mas as línguas imperiais
ficam. E a sua obra continua a cumprir a missão para a qual foi construída. Tanto
ele não sabia.
A autora afirma
que literariamente ele é «um painel de contradições» assumidas. Concordo com
essa afirmação, pois os paradoxos sempre o interessaram, como refere, no Diário
de 1913, ter
tido «várias ideias para paradoxos» e «variadíssimos conceitos paradoxais». Vários estudiosos pessoanos
escreveram sobre o assunto: T.R. Lopes afirma que é através do Dr.
Nabos (uma das primeiras
personalidades literárias de Pessoa) que «o jovem Pessoa começou
a exercitar-se no jogo do paradoxo chocante»; Pierre Rivas: escreve «Tout, chez Fernando
Pessoa, est marqué du signe du paradoxe, qui est un des visages de la modernité»; Jorge de Sena, por seu
lado, aponta como influenciadores do culto pessoano do paradoxo «as tendências
esteticistas [inglesas] do fim do século que ele teria conhecido (Óscar Wilde,
etc.) como um desafiador antivitorianismo e com que aprendeu o culto do
paradoxo e dos refinamentos audaciosos da expressão […]».
Assim, «o painel de contradições» é ainda um trabalho de ampliação
intelectual de grande rentabilidade poética. Estamos perante um poeta artífice,
na linha dos poetas construtores (Edgar Allan Poe e Paul Valéry), que encaram
os poemas como objetos construídos em labor interminável e complexo, subtil e
refinado. Pessoa acrescenta ainda o poder dramatúrgico para o conjunto da sua
poesia.
Escapa à autora o valor do dialogismo na
obra de Pessoa. Ele dialoga intelectualmente com os textos que lê e absorve,
criando novos textos. A intertextualidade é assumida na sua obra. Ricardo Reis
escreve: «Deve haver, no mais pequeno poema de um poeta, qualquer coisa por
onde se note que existiu Homero». É nesse cortejo de poetas maiores, com início
na antiguidade grega, que ele faz a sua inscrição. Porém, não se fica pela
antiguidade, ele absorve o real para o transformar. Veja-se a absorção das
cartas de Paris do amigo Sá-Carneiro, em 1913, e a sua transformação poética em
certos versos do poema Pauis, trabalho desenvolvido em «Diálogo Poético» (Domingues, 2013).
Escapa também à autora o Fernando Pessoa
que se diverte a «pregar partidas», tão próprio dos homens do seu tempo. E
assim nasce o proto Alberto Caeiro, para pregar uma partida ao Sá-Carneiro. E Pessoa
refere, em carta a Cortes Rodrigues, de 4 de outubro de 1914, o achado de uma
farmácia A. Caeiro, na Avenida Almirante Reis, e acrescenta: «A outra é melhor».
E conta ao amigo a partida a António Ferro, combinada com o Guisado, para que
Ferro acreditasse na existência real do dito heterónimo.
Dentro do mesmo estado de espírito,
poder-se-á inserir o dialogismo de certas cartas e poemas de Mário de Sá-Carneiro
com poemas de Pessoa, nomeadamente, o poema Partida com o poema Pauis.
Saliente-se, a terminar, que a referida
obra de Leila Perrone-Moisés merece uma leitura atenta, pois muito se aprende
com o trabalho sério da investigação realizado na obra de Pessoa, que tem como suporte
uma bibliografia rica e atualizada para a época – 1982 –, nomeadamente, o
suporte da obra de base psicanalítica de Jacques Lacan (1901-1981).
Agosto de 2015
Maria José Domingues
Bibliografia
COELHO, Jacinto do Prado (1987) – Diversidade e unidade em Fernando Pessoa,
9ª, ed., Lisboa, Editorial Verbo.
PERRONE-MOISÉS, Leyla (1982) – Aquém do eu, além do outro,
Livraria Martins Fontes, Lda., S. Paulo.
DOMINGUES, Maria
José Lopes Azevedo (2013) - Fernando Pessoa e «A
Nova Poesia Portuguesa»:da teoria à concretização poética em Pauis, em
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