- Coloquemos antes a questão no sujeito.
- Mas que sujeito? Não sei de quem fala.
- Continuo a falar da expressão "ter a faca e o queijo na mão", de que nos ocupámos no último diálogo.
- Ah! Pensei que o assunto já era outro...
- Fiquei a remoer. Essa expressão é usada para significar que o sujeito que tem a faca e o queijo na mão faz aquilo que quer do queijo e com uma faca. O sujeito/agente, neste caso, é aquele que age sobre outro com uma ameaça, sempre pronta a acontecer.
- E onde é que isso nos leva?
- Pensa nas profissões e vai verificando.
- Vejamos, então, por exemplo, o médico. Em certas situações, eu diria que ele tem, de facto, a faca e o queijo na mão...
- É um bom exemplo. Continua.
- Eu sou aluno, frequento uma escola. E ouço o meu pai dizer muitas vezes para ter cuidado com os professores, porque eles têm a faca e o queijo na mão. Quando ele diz isso, eu olho para ele sem entender a que propósito fala daquilo. Depois, vejo-o a encolher os ombros e ouço-o explicar que, em sua opinião, os professores, se me tomarem de ponta, podem fazer comigo o que lhes der na veneta.
- E como te sentes ao tomar consciência disso?
- Na altura fico assustado, depois passa; mas, em certas situações escolares, lembro-me das palavras de meu pai. Penso, então, que é a minha vida de estudante que está nas mãos dos professores, porque me podem passar ou reprovar. E nunca me sinto muito seguro quanto a isso.
- É com "a faca e o queijo na mão" que os ditadores aguentam o poder durante muito tempo. E que muitos seres humanos controlam e subjugam os outros, que, amedrontados, se conformam com o sistema.