O
dúbio mascarado - o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.
Em
vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua alma de neve, asco dum vómito -.
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.
Sua alma de neve, asco dum vómito -.
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.
O
sem nervos nem Ânsia - o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.
O
raimoso, o corrido, o desleal -
O balofo arrotando Império astral,
O mago sem condão - o Esfinge gorda...
O balofo arrotando Império astral,
O mago sem condão - o Esfinge gorda...
Paris
fevereiro 1916
Neste poema estamos perante a dimensão dramática da poesia,
na qual se potencia, segundo Cabral Martins, a «transformação do discurso
lírico numa arte de dissonância, como em Eliot, Apollinaire e Pessoa». Este
poema seria o exemplo disso - «um texto de vozes que se cruzam e se fixam num
soneto que lhes dá forma arquitectural»[1].
MJD
[1]
In O Modernismo de Mário de Sá-Carneiro, Fernando Cabral Martins, 1997,
Editorial Estampa, Lisboa, 327.