tocadores, vinde tocar
marimbas, n’gomas, quissanges
vinde chamar nossa gente
p’rá beira do grande Mar!
sentai-vos, irmãos, escutai:
precisamos entender
as falas da Natureza,
dizendo da nossa dor,
chorando nossa tristeza.
ora escutai; meus irmãos:
aquele sol no poente,
vermelho como uma braza
não é sol somente. Não!
é coágulo de sangue
vertido por angolanos
que fizeram o Brasil!
ouvi o mar como chora,
ouvi o mar como reza…
olhai a noite que chega,
veludo negro tecido
de mil pedaços de pele
arrancados a chicote,
ai! Cortados a chicote,
do dorso da nossa gente,
no tempo da escravatura…
noite é luto
de que Deus cobre o mundo
com dó de nós…
disco de prata luzente
sobe ligeiro no espaço.
sabei que a Lua fulgente
contém lágrimas geladas
por pobres negros choradas…
pergunta-me a multidão,
sentada à beira do mar:
- agora dizei, irmão,
aquela pálida estrela
tão pequenina e humilde
que brilha no nosso céu
qual é o significado?
talvez seja finalmente
Deus a olhar para a nossa gente…
Maurício de Almeida Gomes (1920)
Luandense. Integra a Antologia dos novos poetas Angolanos, de 1950 e tem colaboração na “Cultura I”, “Cultura II” e “Mensagem”.marimbas, n’gomas, quissanges
vinde chamar nossa gente
p’rá beira do grande Mar!
sentai-vos, irmãos, escutai:
precisamos entender
as falas da Natureza,
dizendo da nossa dor,
chorando nossa tristeza.
ora escutai; meus irmãos:
aquele sol no poente,
vermelho como uma braza
não é sol somente. Não!
é coágulo de sangue
vertido por angolanos
que fizeram o Brasil!
ouvi o mar como chora,
ouvi o mar como reza…
olhai a noite que chega,
veludo negro tecido
de mil pedaços de pele
arrancados a chicote,
ai! Cortados a chicote,
do dorso da nossa gente,
no tempo da escravatura…
noite é luto
de que Deus cobre o mundo
com dó de nós…
disco de prata luzente
sobe ligeiro no espaço.
sabei que a Lua fulgente
contém lágrimas geladas
por pobres negros choradas…
pergunta-me a multidão,
sentada à beira do mar:
- agora dizei, irmão,
aquela pálida estrela
tão pequenina e humilde
que brilha no nosso céu
qual é o significado?
talvez seja finalmente
Deus a olhar para a nossa gente…
Maurício de Almeida Gomes (1920)