De
entre recortes de jornais por tratar, destacava-se o ensaio, publicado no
semanário Expresso de 11 de Janeiro, «A democracia na Europa de hoje» de
Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, que esteve em Portugal para
debater os problemas mundiais, nomeadamente, aqueles que respeitam à
«transformação da democracia que actualmente encaramos na Europa». A primeira
questão abordada pela perplexidade despertada nos «cientistas políticos»
respeita ao paradoxo - «indiferença política crescente e envolvimento
intensificado» – «a síndrome do ‘pós-democracia’». E explica que a
globalização, especialmente do sistema de mercados financeiros, iniciada
nos anos 70, colocou esses mercados fora do alcance da regulação nacional.
Em consequência, o gasto público reduziu-se e foi reforçada a desigualdade
social.
A propósito da desigualdade
social, refira-se o relatório da Oxfam com o título “Governar para as
elites – Sequestro Democrático e Desigualdade Económica”, apresentado no fórum económico
mundial de Davos - 1914, que apresenta conclusões terríficas acerca da
desigualdade social (dados recolhidos nos semanários Expresso e Sol):
1.
as 85 pessoas mais ricas do mundo concentram
tantos recursos como a metade mais pobre da população mundial;
2.
a concentração de 46% da
riqueza em mãos de uma minoria supõe um nível de desigualdade "sem
precedentes" que ameaça "perpetuar as diferenças entre ricos e pobres
até as tornar irreversíveis";
3.
os cerca de 1% dos mais
ricos aumentaram os rendimentos em 24 dos 26 países para os quais os dados
estão disponíveis entre 1980 e 2012 e sete em cada dez pessoas vivem em países
onde a desigualdade económica aumentou nos últimos 30 anos;
4.
os cerca de 1% dos mais
ricos na China, em Portugal e nos Estados Unidos mais do que duplicaram
os rendimentos nacionais desde 1980 e mesmo nos países com a reputação de serem
mais igualitários como a Suécia e a Noruega, a riqueza dos 1% mais ricos
aumentou 50% no período em referência;
5.
há 18,5 biliões de dólares
(13,6 biliões de euros) não registados e em países terceiros de baixa
tributação, pelo que na realidade a concentração de riqueza é muito maior;
6.
210 pessoas juntaram-se em
2013 ao clube dos multimilionários cuja fortuna é superior aos mil milhões de
dólares, formado por um conjunto de 1.426 pessoas que concentram uma riqueza
5,4 biliões de dólares (quase quatro biliões de euros):
7.
este aumento das
desigualdades deve-se em grande parte à desregulamentação financeira, aos
sistemas fiscais e às regras que facilitam a evasão fiscal.
Estes
são dados incontornáveis por serem verificações. O mal-estar sentido politicamente
pelo cidadão comum tem esta base alarmante. Melhora-se com o esclarecimento,
para que se possa avançar na acção. Mas que acção? Voltaremos ao assunto com
Habermas.