Responsos
«Recupera-se o perdido./ Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão/ cede o mar embravecido./
Pela sua intercessão,/ foge a peste, o erro, a morte,/ O fraco torna-se forte, /e torna-se o enfermo são./
Recupera-se o perdido. /Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão/ cede o mar e mbravecido./
Todos os males humanos /se moderam, se retiram,/
Digam-no aqueles que o viram, /e digam-no os paduanos./
Recupera-se o perdido. /Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão / cede o mar embravecido./
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Recupera-se o perdido./ Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão /cede o mar embravecido./
Rogai por nós, bem-aventurado António / Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.»
Na minha infância, quando em minha casa se perdia algo de valioso, minha mãe mandava-me a casa da Teresinha, para que ela dissesse o responso a Santo António. Muito satisfeita, eu corria para casa da nossa amiga a fazer-lhe o pedido. Ela entrevistava-me, pedia pormenores do sucedido e do objeto em causa. Muito séria e em espírito de oração, como quem falava com o santo, repetia três vezes o seguinte texto, se não se enganasse, o objeto apareceria:
Não tenho a certeza se era esta a terminação, mas o certo é que, se não houvesse enganos no responso, a Teresinha diria onde ir buscar o objeto, mesmo sem sair de sua casa. Maravilhas da infância!
Bem diferente dos responsos apresentados, é o da memória da minha amiga Manuela, recitado por sua família de origem lisboeta:
O texto
«Atrás de uma montanha há sempre outra» (Vidas Vencidas, Maria Ondina Braga) começa com a grande devoção do pai da narradora a
Santo António, festejado, no dia 13 de Junho, com um trono em forma de gruta, velas
de cera, cravos e manjericão. Sua mãe também trouxera um, «de cruz em punho e o
Menino sentado no livro aberto, o que significava boda segura, satisfação». Porém,
o grande destaque vai para o poder de «fazer aparecer objectos perdidos e evitar
desgraças que se adivinhavam, bastava rezar-se-lhe o responso:
Se milagres
desejais
Recorrei a Santo António
Vereis fugir o demónio
e as tentações
infernais».
E mais adiante, cita o pedido dos pescadores:
«no auge do furacão
cede o mar embravecido...».
Os versos citados pela autora pertencem ao Ofício Rítmico em honra de Santo Antónia,
datado de 1233, e cantado ainda hoje. Iniciado pela quadra que Maria Ondina transcreve, continua assim:«Recupera-se o perdido./ Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão/ cede o mar embravecido./
Pela sua intercessão,/ foge a peste, o erro, a morte,/ O fraco torna-se forte, /e torna-se o enfermo são./
Recupera-se o perdido. /Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão/ cede o mar e mbravecido./
Todos os males humanos /se moderam, se retiram,/
Digam-no aqueles que o viram, /e digam-no os paduanos./
Recupera-se o perdido. /Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão / cede o mar embravecido./
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Recupera-se o perdido./ Rompe-se a dura prisão,/ e no auge do furacão /cede o mar embravecido./
Rogai por nós, bem-aventurado António / Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.»
Pelos vistos, na casa da narradora, em Braga, o mais usual, perante a perda da chave, dos óculos, da caixa
de pastilhas, era recorrer a São Tomaz de Villanueva, numa reza rápida:
Lendo Vidas Vencidas, agora, em 2014, e conversando sobre o responso, uma amiga disse-me que conhecia uma senhora de Adaúfe, Braga, que fazia aparecer as coisas perdidas através de responso. Pedi-lhe que mo arranjasse. Trouxe-mo hoje. E qual não foi o meu espanto ao verificar que em vez de S. Tomás de Villanueva se tinha colocado Santo António de Lisboa, embora este não tenha sido nem bispo nem arcebispo. Reza assim:
«São Tomaz
de Villanueva
Foste bispo e arcebispo
Permiti que me apareça (explicava-se)
Pelas chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo».
E tudo aparecia. Contudo, ela não conhecia o santo, até ao posterior encontro da imagem no altar-mor da igreja do Pópulo.Lendo Vidas Vencidas, agora, em 2014, e conversando sobre o responso, uma amiga disse-me que conhecia uma senhora de Adaúfe, Braga, que fazia aparecer as coisas perdidas através de responso. Pedi-lhe que mo arranjasse. Trouxe-mo hoje. E qual não foi o meu espanto ao verificar que em vez de S. Tomás de Villanueva se tinha colocado Santo António de Lisboa, embora este não tenha sido nem bispo nem arcebispo. Reza assim:
Santo António de Lisboa
Foste bispo e arcebispo
Pelo poder de Jesus Cristo
Ajudai-me a aparecer isto
Pelo poder de Deus
E da Virgem Maria
Rezo um pai-nosso
E uma ave-maria
Na minha infância, quando em minha casa se perdia algo de valioso, minha mãe mandava-me a casa da Teresinha, para que ela dissesse o responso a Santo António. Muito satisfeita, eu corria para casa da nossa amiga a fazer-lhe o pedido. Ela entrevistava-me, pedia pormenores do sucedido e do objeto em causa. Muito séria e em espírito de oração, como quem falava com o santo, repetia três vezes o seguinte texto, se não se enganasse, o objeto apareceria:
Santo António se vestiu e calçou.
Pelo caminho do Senhor andou.
Encontrou o Senhor,
O Senhor lhe perguntou:
– Ó António, onde vais?
– Ó Senhor, eu vou contigo.
– Tu comigo não irás,
Nesta terra ficarás,
Todas as coisas perdidas,
Ó António, encontrarás.
Não tenho a certeza se era esta a terminação, mas o certo é que, se não houvesse enganos no responso, a Teresinha diria onde ir buscar o objeto, mesmo sem sair de sua casa. Maravilhas da infância!
Bem diferente dos responsos apresentados, é o da memória da minha amiga Manuela, recitado por sua família de origem lisboeta:
O diabo esteja de joelhos a rezar,
Diante do Santíssimo Sacramento do altar,
Enquanto o objeto se não achar.
Claro que, em vez de objeto, se dirá o nome dele.
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