Caro Pessoa, meu companheiro de alvorada,
Perco-me na tua obra. Leio-a, medito-a e depois espraio meus olhos cansados em textos daqueles que com ela tecem mantas discursivas tão abrangentes que cobrem grande parte do mundo.
Nesse mundo, encontram-se os poetas ingleses, onde tu também habitas.
E Mensagem, o poema hoje celebrado nos seus setenta e cinco anos, o poema lido como nacionalista, é um enigma que eu tento decifrar para além de todas as decifrações já publicadas. Porém, esbarro a cada passo. Neste momento, a parede é Keats e o seu Hyperion. Nessa luta de gigantes, entre velhos e novos deuses, colocaste os portugueses, filhos de deus e do diabo, na sua avançada imperial? Será por isso que o meu espírito, face a Mensagem, ora agarra a ideia do desvendar do segredo da esfinge pelo jovem Édipo, ora o agnus dei imolado por um deus que é pai numa cultura greco-romana-judaico-cristã? Impossível não acreditar que O Encoberto de Sampaio Bruno não passeie por lá, no horror manifestado pela crueldade nacional, bem expressa nos autos-de-fé, contrariando a ideia da “pátria dos brandos costumes”.
E tudo isso e muito mais vagueia na ironia dialógica da tua poesia, em adiamento do desvendar futuro.
Parabéns. Tu conseguiste.
A Fernando Pessoa
ResponderEliminartenho o poema engasgado na garganta
nascido no interior do desejo
em vómito de ensejo que não sai
nem vem nem vai
atravessa a noite e o dia
em sufoco em espasmo
o alívio: a tua poesia
mjosefaportel