Prometeu (s) agrilhoado (s)
ondeia a cabeleira a dominar
em mar encapelado a barcaça ondeia
entranço a cabeleira revolta
e a barcaça pejada de esperança
avermelha
aquele mar que interceta a terra
e aperta meus dedos nas tranças negras
de sons e imagens de dor
«há
uma tempestade e um destroço de barco atirado
contra
as rochas emergindo no mar indiferentes
à desgraça humana.»
a humanidade sacrificada
na certeza do sentido
- ma chevelure abimée -
roubar o fogo da vida
ó Prometeu sempre agrilhoado
- a cabeleira fustiga teu rosto -
mil aves de rapina debicam
teu fígado eterno
Zeus não perdoa
lavo teus cabelos
à centúria 21
entranço e desentranço
exposto ao sol ao vento à maresia
o prisioneiro do crime inocente
de ter nascido
a barcaça estremece
o fogo da vida abrasa
o naufrágio acontece
flutuam cadáveres
olhos abertos
para um céu desabitado de deuses
a quem roubaste o fogo
que já não aquece
mas incendeia
e eu penteio despenteio
o cabelo dos mitos
silenciando gritos
dos aflitos
na terra e no mar
Procura-se agora e sempre
A cantada por Eluard
«Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté»
Pour te nommer
Liberté»
Todavia
Prometeu continua agrilhoado
E eu penteio e despenteio mitos
13 de dezembro 2015 Poesia zed
Encobre o teu céu, ó Zeus,
ResponderEliminarCom vapores de nuvens,
E, qual menino que decepa
A flor dos cardos,
Exercita-te em robles e cristas de montes;
Mas a minha Terra
Hás-de-ma deixar,
E a minha cabana, que não construíste,
E o meu lar,
Cujo braseiro
Me invejas.
Nada mais pobre conheço
Sob o sol do que vós, ó Deuses!
Mesquinhamente nutris
De tributos de sacrifícios
E hálitos de preces
A vossa majestade;
E morreríeis de fome, se não fossem
Crianças e mendigos
Loucos cheios de esperança.
Quando era menino e não sabia
Pra onde havia de virar-me,
Voltava os olhos desgarrados
Para o sol, como se lá houvesse
Ouvido pra o meu queixume,
Coração como o meu
Que se compadecesse da minha angústia.
Quem me ajudou
Contra a insolência dos Titãs?
Quem me livrou da morte,
Da escravidão?
Pois não foste tu que tudo acabaste,
Meu coração em fogo sagrado?
E jovem e bom — enganado —
Ardias ao Deus que lá no céu dormia
Tuas graças de salvação?!
Eu venerar-te? E por quê?
Suavizaste tu jamais as dores
Do oprimido?
Enxugaste jamais as lágrimas
Do angustiado?
Pois não me forjaram Homem
O Tempo todo-poderoso
E o Destino eterno,
Meus senhores e teus?
Pensavas tu talvez
Que eu havia de odiar a Vida
E fugir para os desertos,
Lá porque nem todos
Os sonhos em flor frutificaram?
Pois aqui estou! Formo Homens
À minha imagem,
Uma estirpe que a mim se assemelhe:
Para sofrer, para chorar,
Para gozar e se alegrar,
E pra não te respeitar,
Como eu!
Prometheus, Goethe, 1774.
Breve, continuarei com o Mito do PODER. Sempre presente.
ResponderEliminarForte a palavra, o logos, do teu poema, poetisa inconformada com os deuses e com a dor.