domingo, 31 de maio de 2015

CONDIÇÃO HUMANA



Condição humana

Nascer condenado à morte é dor de existir com perdas e lutos de amor.
Mezinhas e crenças acolchoam a ferida a sarar, a sangrar.
Figas e negas, esquecimento na labuta dos dias – a sobrevivência.
Punhal afiado em pêndulo da ceifeira de vidas vem e vai.
Penetra fundo no coração e sai em grito de raiva prometaica,
Desafiando os deuses indiferentes com quem negoceio a eternidade:
Que não seja hoje nem amanhã nem nunca…
Na certeza da condenação.

Aceitação - e porque não?
Que deuses nos prometeram a eternidade,
Para que a desejemos?
Morre a árvore, a mosca e o leão…
E tu, não?
És o espaço da interrogação revelada,
Apenas tu - bichos e árvores, não.

Dentro de ti, o pensamento: tu e o mundo,
Na caminhada rumo à questão do ser-aí.
Com projetos e contestação, entra na dança.
Não esqueças:
Tu és sujeito de mudança.
E não estás só: tu e o outro -
Fonte de alegria, fonte de preocupação…
Mas não te percas, ó único, tu és intérprete do mundo,
que nos integra no vasto Cosmos,
Quais borboletas feitas do pó das estrelas.

A angústia é humana e salutar,
É ampla e faz pensar,
No salão da consciência – palco da reflexão,
Podes optar e decidir pela Liberdade
De temer, de sofrer, de amar
E de filosofar.

Poesia zed – 29 de maio de 2015

1 comentário:

  1. O Poema de Maria José é, na minha modestíssima opinião, de profunda raiz filosófica. E trata, na esteira de muitos filósofos, o tema da morte. Enfim, o sentido da Vida. E, curiosamente, este tema da Morte que com a Vida vem, ou seja, com ela nasce, sempre juntas, é tratado pelo escritor de ambas, admirado, José Saramago. Sabemos que hoje, mais do que no passado, a filosofia está no romance. De escritores que são filósofos, no sentido não só de amar o saber mas de, através de tramas, do quotidiano, das estórias de vida dos personagens, trazer à superfície, do subterrâneo do SER, a reflexão sobre o que é a eternidade, se temos eternidade. E quem a pode prometer.
    Neste tom filosófico, o poema expande-se e na última estrofe, atinge a sua plenitude: reservando aos humanos o sentimento da angústia e, sendo mesmo, salutar, já que no " salão da consciência"- o Palco da reflexão, a tal conduz a condição humana.
    A Poesia, Palco da Vida, consubstancia-se, ao colocar ao leitor e leitora, a opção de poder optar pela Liberdade:
    "De temer, de sofrer, de amar
    E de filosofar."

    Margarida.

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