Conta aprender até morrer
Citando da entrevista de Fernando Savater, no caderno Actual do semanário Expresso de 30 de Outubro:
- Como a sociedade democrática deve ser laica, não há razão que justifique a presença da religião na escola pública. A religião é um assunto privado, que deve ficar na sinagoga, na paróquia, na mesquita.
- A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A escola é uma preparação para a democracia. Uma aula é hierárquica. O professor está sempre acima do aluno. A escola deve estar a preparar alunos para ser cidadãos. A escola não tem mecanismos da democracia nem deve tê-los.
- A escola sempre viveu em crise. Os professores foram educados no passado e têm de educar para o futuro. Essa crise é a da sociedade.
- Ora, se o professor tem tanta autoridade como o aluno a aula não funciona.
- Toda a gente aceita que um treinador dê ordens aos seus jogadores. Já o mesmo modelo numa escola parece que começou a ser (erradamente) entendido como algo escandaloso.
- Há que elevar o nível médio de conhecimento para que todos possam intervir com competência.
- Os políticos somos todos nós. Somos nós que os elegemos. Os políticos não são seres de outro planeta que desceram à terra para nos dificultar a vida.
Fico muito contente, caríssima Seniora, por teres escolhido a entrevista que Fernando Savater, deu ao último Expresso, Revista Atual, para debate no teu Blog.
ResponderEliminarEste pensador e educador espanhol, tem-me acompanhado muito, nomeadamente, na forma como entende a Ética e, também, as questões relacionadas com deus e com as religiões. Identifico-me muito com as suas posições, neste campo. Ainda, há pouco tempo, comprei mais um dos seus livros, Mente Livre. Apesar de eu ter tido uma educação e vivência católicas, muito fortes, na minha educação, quer na família quer na escola, no colégio religioso que frequentei até ao 7.º ano do Liceu, não senti, qualquer rutura no meu eu autobiográfico, ao abandonar a fé na religião católica. Sinto-me livre e com uma imensa alegria pela VIDA, preparando a morte.
Quanto ao tema da entrevista que nos traz a este debate, estou, inteiramente, de acordo, logo no primeiro ponto da síntese que fizeste. Sim, era muito mais importante uma disciplina de Ética Cívica. A Escola é laica. E, como tal, a religião de cada um dos alunos, deverá ser transmitida a partir da família e da igreja/confissão a que tenham aderido.
Na questão mais complexa que se prende com uma das suas afirmações: “A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A Escola é a preparação para a democracia”, pode levantar alguns equívocos, de interpretação. Eu nunca pensei, assim, tão explicitamente. Contudo, tenho a certeza que muitos de nós, sabíamos que tínhamos de trabalhar os valores da Democracia. Aliás, constavam dos documentos oficiais, nos perfis que no fim de cada ciclo, os alunos deveriam atingir. Preparar para a Democracia é, realmente, condição sem a qual, não teremos cidadãs e cidadãos a fazer boas escolhas de governantes nem a oferecer-se para desempenhar melhor os cargos necessários à defesa do Estado Democrático, se acharem que o fariam melhor. Talvez se reduzisse a crítica pela crítica, sempre destrutiva.
É verdade que passou para a opinião pública que havia facilitismo na forma de concretizar as aprendizagens. E essa conceção plasmou a visão de muitos docentes, o que pode ter causado danos ao sistema. E deixou de se pensar, claramente, na diferença entre os papéis e funções dos intervenientes no processo: professor e aluno e, sobretudo, no lugar importante, fulcral, que a aula, aí, ocupa. E, também, o tipo de interelação pessoal a estabelecer, no quadro do ensino/aprendizagem.
É uma boa mensagem para ser discutida nas escolas, nomeadamente, o que se deverá entender por professor “mais autoritário”.
Gostei muito de ter pensado nesta questão. Adoraria continuar, ainda, na escola. Mas há que dar lugar aos mais jovens. Também, reparei na obra que referes, no Blog, do ilustre Professor Rómulo de Carvalho. Vou tentar ler.
Obrigada. Margarida Vilarinho
Olá Seniora :)
ResponderEliminarConcordo com todos os comentários. Mas os que mais me tocam são os que se referem à sala de aula. Aqui, um professor tem de ser uma figura de autoridade. Ainda que possa (e, por vezes, deva) haver lugar a negociações, a última palavra deve ser do professor. Acho sempre muito estranho como é que se permite a um aluno confrontar um professor de um modo insolente ou mesmo violento e como muitas vezes não se estabelecem procedimentos para lidar com essas situações e com esses alunos.
Mas também acho que os problemas nas escolas começam em casa quando qualquer dor de barriga serve de desculpa para faltar à escola (e logo no dia do teste de Química...) ou para não fazer o trabalho de casa. Não há consequências em casa e as consequências na escola ou não existem ou não são suficientemente severas.
Já tive reuniões com encarregados de educação que me pediram para ser eu falar com os filhos, para ser eu a impôr castigos porque eles próprios (os pais) não conseguiam. Antes da desautorização dos professores começou a desautorização dos pais. E enquanto não se responsabilizarem os pais, as famílias dos alunos e, sobretudo, os alunos não creio que a situação mude.
Acho que se dá demasiada protecção aos jovens de hoje. Talvez "protecção" não seja a palavra adequada (todos nós precisamos de ser protegidos de várias maneiras). Excesso de zelo, talvez? Sempre me ensinaram que se pode aprender de duas maneiras: com os nossos erros ou com os erros e/ou conselhos dos outros. A primeira, mais violenta, costuma ser mais eficaz e sempre perdura mais tempo na memória. Os jovens de hoje precisam de bater mais vezes com a cabeça na parede e, claro, sofrer as devidas consequências.
Por hoje, é tudo.
Beijinhos,
Joana D.
Olá
ResponderEliminarQuanto à questão da presença da religião na escola pública concordo com as afirmações do autor. Mas quanto à democracia as afirmações parecem-me um pouco confusas. A democracia não exclui hierarquias, mas sim liberdade de expressão e de contribuição. Assim, a escola deve preparar para a democracia permitindo viver em democracia. Se fizermos uma analogia entre o funcionamento democrático da sociedade e o funcionamento da escola teremos a direcção como governo, o conselho de turma como o poder local em que cada professor é um dos representantes desse poder local. As hierarquias existem em democracia. O autor deve estar a referir-se à anarquia que por vezes se vive quando não se impõem as regras democráticas.
Bjs
Cláudia
Concordo totalmente com este texto de Fernando Savater. Se todos pensassem assim a escola seria um local muito agradável de viver, tanto para os professores como para os alunos. Não é necessário que haja uma autoridade exagerada e violenta como no antigo regime, mas sim que haja uma consciência comum dos alunos perante os professores, que são os quem têm autoridade e experiência e, portanto, a quem devem respeito. Só deste modo se aprende com qualidade... Neste passo, a casa e os pais tem um papel fundamental.
ResponderEliminarDo ponto de vista biológico, uma criança é um ser em desenvolvimento físico e psicológico que ainda não sabe o que quer ou o que é melhor para ela. Todos os seus neuroniozinhos estão ainda a criar novas redes (tal e qual uma rede social)! Nesse sentido, uma criança tem de ser moldada num contexto educativo e de regras. Se lhe for dado espaço para decidir incondicionalmente, no futuro será um adulto que actua conforme o que lhe apetece e não conforme o que deve, perdendo o rumo e objectivos definidos. Assim, concordo que uma escola não deve ser uma democracia mas um local de preparação para tal.
Sofia
Escola em Democracia - pontos de vista
ResponderEliminarConta aprender até morrer
Lendo os comentários da Guida, da Joana, da Sofia e da Cláudia, concluo que as participantes no debate proposto são democratas e buscam melhorar a democracia na Escola, concordando que ela não é uma democracia, mas o local privilegiado para a aprendizagem democrática. Certamente também concordaríamos que se aprende melhor fazendo, participando, actuando. Essas acções pressupõem espaços democráticos na escola, nos quais os alunos aprendem a actuar democraticamente. Quer Savater, quer as comentaristas concluem que esse espaço não pode ser a sala de aula, uma vez que o professor tem que se comportar como um superior hierárquico com comportamentos democráticos que favoreçam a aprendizagem específica e a educação geral na abrangência da formação do ser humano perspectivado para o futuro.
Pergunta-se, então, quais são esses espaços de exercício democrático na Escola. E a resposta terá certamente de apontar para as áreas curriculares não disciplinares, com a aula de Formação Cívica em destaque. Nesse espaço curricular estão os alunos e o director de turma. Nele se elegem os delegados dos alunos. Eis o primeiro momento cívico: votar para o representante democraticamente eleito. A sessão ou sessões preparatórias com a informação das funções do delegado e subdelegado, as respectivas campanhas eleitorais e a votação com acato do resultado são momentos únicos para a formação do cidadão. Depois, é preciso activar a funcionalidade dos representantes ou delegados dos alunos, de modo a que deixem de ser o lacaio do professor (para distribuir materiais, tirara fotocópias, chamar o empregado ou outrem, apagar o quadro, escrever o nome no quadro dos colegas que se portam mal na ausência do professor, etc). Se as funções são de representação, o delegado representa os colegas oficialmente nos conselhos de turma ou em reuniões organizadas para auscultar os alunos. Para que essa representação seja bem feita e profícua é necessário que os delegados reúnam com os representados para debater os problemas e as respectivas sugestões de solução. O Director de Turma deverá regular a sua participação nessas sessões de acordo com a turma em presença; todavia não deveria ser ele a dirigir a sessão, mas o delegado e o subdelegado: um modera e o outro secretaria.
Algumas das comentaristas referiram a família como a solução parcial do problema escolar. De facto, a escola e a família de mãos dadas podem ajudar e muito à formação do jovem democrático. Mas, atenção, as duas partes devem trabalhar em conjunto e nunca uma contra a outra. As duas estão unidas pelo trabalho educativo e é nele que se devem centrar, na certeza de que a área é muito delicada e polémica e envolve o conflito do passado com o futuro, no que respeita ao conhecimento e no que respeita às gerações em presença.