Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
—Tirava os brincos do prego,
Casava c’um homem cego
E ia morar para a Estrela.
Mas Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
— (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
— Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
— Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.
Comunicado pelo Engenheiro Naval
Sr. Álvaro de Campos em estado
de inconsciência
alcoólica.
[1/10/1927]
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002
Este poema tão margarida não parece de Pessoa e muito menos de Álvaro de Campos. A solução que a caneta do escritor encontrou para resolver o problema parece-me deveras original e interessante.
ResponderEliminarcomo se pode ser tão completo, Pessoa é também músico!? sim, poesia é também musicalidade, mas tão leve, tão sadia? quem diria. E Seniora, quantos mundos trazes ao Mundo? Obrigada
ResponderEliminarAna