sexta-feira, 10 de junho de 2022

 

Never More 

 

Grasna o corvo

 

E o seu grasnar

É o ponto de acordar

 

Grasna o corvo

 

Não adormeças

Mil imagens negras

Fazem a ronda

Em negro cantar

 

É hora de levantar

 

Não mates o corvo

Mau companheiro

Do acordar

 

Levanta-te

Enfrenta-o

Deixa-o a pairar

No fundo do tempo

Em inspiração

Do cortejo poético

na eterna canção

Em melopeia

Sempre

 

Abril de 2013  zed (lendo The raven de Allan Edgar Põe)

 

Abril de 2013

 

Glicínias violáceas em caramanchão

Pendem ao sol plenas de vida

Zunem os zângãos e escondem-se as abelhas

Em cones profundos olorosos de doçura e claridade

Indiferentes aos contendores em mesa azul

De bola branca em ritmo binário até à quebra

De página retomada em folha nova a brotar

Bem junto ao cacho em flor soprada pelo zéfiro

Em debandada de pétalas de tapetes pascais

Esmagadas na efémera beleza do jogo da vida


2013 - ZED

 CASA 

 

Eu sou a minha casa e habito-me

Em horas pacificadas de solitude

Ou perdida no meio do nada

De coisa nenhuma

 

Eu sou a minha casa e habito-me

É alva a sala de estar

Onde estendo a consciência de mim

E a perco em alvar intemporalidade

Até à perdição da sala do relógio

Do tempo marcado pelos outros

E os outros também sou eu

 2013 -ZED