quarta-feira, 11 de março de 2020

AUTOBIOGRAFIA de José Luís Peixoto vs artigo de Pilar – uma leitura



Terminada a leitura da obra, tive a curiosidade de saber qual teria sido a reação da leitora Pilar del Rio. Como companheira amantíssima de Saramago e da sua obra, que teria ela sentido ao ler esta escritura com tanto Saramago dentro – ele é o protetor daquele José filho de pai emigrado, filho do abandono, da pobreza, da insegurança; ele é o modelo de homem e de escritor - bem visível na epígrafe inicial e nas   capitulares; e não só.
Paro aqui na epígrafe inicial por constatar que ela aclara a estranheza do título e contém o segredo das personagens «José». Afinal «tudo é autobiografia» - afirma José Saramago em Cadernos de Lanzarote, 1997. Assim sendo, um romance é uma autobiografia, com muita mais razão do que o gesto de apanhar «um objeto do chão». Aconselha-se o leitor a reler a epígrafe depois da obra lida para fazer a verificação do afirmado.
Voltando à leitura feita por Pilar, base do artigo «Pura Literatura»[1], em Ecos da leitura, verifica-se que ela agarrou a trave mestra da obra: a criação literária, em geral, e a de um segundo romance, em particular. Vida e obra de mãos dadas ou em contramão vão sendo narradas na sua construção e desconstrução literária.
A Angústia da Influência também se passeia na obra de uma forma original: sem matar o patrono, o escritor mais novo funde-se com o mais velho, formando um único José. Também Pilar foi sensível a esta questão, referindo «o jogo (...) completamente fictício». E sublinha que é «pura criação, criação literária». E ainda bem que o afirma, uma   vez que o leitor se vai interrogando ao longo da obra sobre se Saramago protagonizou aquelas «boas ações» em benefício do sofredor e tímido jovem José, que surge a meus olhos com a figura de José Luís Peixoto. 
Se as obras referidas são as de Saramago, se a maioria das personagens são saramaguianas, também se pode aceitar que as ações protagonizadas por Saramago são de Saramago.

11/3/2020
MJDomingues






[1] https://joseluispeixoto.blogs.sapo.pt/pilar-del-rio-sobre-autobiografia-de-162051

terça-feira, 3 de março de 2020

À GUIDA




No barco luminoso em espaço azul
Navegamos
Em mar de letras de fonte homérica
Penélopes libertas
Prisioneiras de afetos
Em viagens sem fim

O barco cansa e descansa
Envelhece ou adoece
E nós vivas dentro dele
Decifradoras da vida
Com estrelas no olhar

Eternas como deusas
Dentro do mito sagrado
Uma canta de alegria
É a nossa cotovia
Das manhãs claras
Em viagem permanente

Ó navegante do barco luminoso
Ó cotovia das manhãs claras
Que os ventos te sejam favoráveis
Que a ciência corra em teu favor
E que regresses bem às árvores que te prendem
Mil corações te acompanham e
Mil corações te aguardam no cais
Em abraço fraterno


14 de Setembro de 2014
zed