«Na Mão de Deus» - Antero de Quental
Depois de,
em vão, tentar contacto com responsável da página do Citador, muito
requisitada, decidi transcrever o referido soneto, corrigindo o sétimo verso,
pois onde Citador colocou «Depois», Antero escrevera «Depus» - pretérito
perfeito do indicativo do verbo depor. Assim, o sujeito poético anuncia que
depôs «a forma transitória e imperfeita» do trono do «Ideal e da paixão».
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental
(Antero de Quental SONETOS,
edição organizada, prefaciada e anotada por António Sérgio, Livraria Sá da
Costa Editora, 5ª edição, 1976, pp.116-117)
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