«Coaching: o triunfo do saber ser» (in semanário Expresso de 13 de Novembro de 2010)
O triunfo do saber ser alegra-me profundamente. Se aplicado ao mundo empresarial, redobra a minha alegria. Tentámos fazer isso na escola e chamaram-nos depreciativamente românticos. Talvez com o palavrão inglês à cabeça funcione melhor: coaching (ouvem-se as rãs , a paisagem é idílica).
A palavra inglesa é derivada de coach que significa nesta pedagogia «o líder inspiracional» apoiado na teoria socrática de que tudo está em nós e, por isso, «conhece-te a ti mesmo», para desenvolver todas as potencialidades do ser.
Lê-se no referido semanário que «o primado empresarial de saber fazer deu lugar ao saber ser». E que o boom em Portugal se dera em 2005. Quem deu por isso? Já percebi, a especialista explica: «o coaching ainda é visto como uma metodologia de elite», por isso, ninguém se apercebeu. Ok.
Mudança de mentalidades, eis o que se pretende coachando: «o grande desafio das empresas é, hoje, desenvolver o seu capital humano nas questões ligadas ao relacionamento interpessoal e emocional». Quem acredita que tal pedagogia se faça no mundo empresarial português?
«A atitude coach, dimensão verdadeiramente transversal relacionada com o saber ser, representa uma forma inovadora de estar na vida pessoal, profissional e social, na medida em que permite níveis superiores de realização, bem-estar e equilíbrio». Maravilhoso, não é? A inteligência emocional e o velho Karl Rogers à colação. Quem sabe se o querido Paulo Freire não visitará em espírito universal os coachs?
Funções do coach («o líder inspiracional»):
- «Ajudar o colaborador a aprender e a perceber as áreas em que o seu potencial de desenvolvimento é maior.
- Estimulá-lo a desenvolver a sua inteligência emocional e a tirar o melhor dela em termos profissionais.
- Apoiá-lo a explorar e a definir as suas metas, a tomar opções, a lidar e analisar os erros, as suas causas e raízes e as formas de os resolver e ultrapassar.
- Facultar pistas ao colaborador para que ele possa encontrar o seu rumo na organização e superar-se a si próprio.
- Transmitir desafios concretizáveis, bem como sentimentos de segurança.
- Estimular a proactividade e o orgulho da pertença à organização e à equipa em que está integrado.
- Promover o reconhecimento do mérito e impelir o colaborador a utilizar todo o seu potencial ao serviço da empresa.
- Ajudar a estimular a independência e autonomia do colaborador, bem como a sua competência, empenho, dinamismo, proactividade e capacidade de inovação».
Vejam isto aplicado à formação de professores e ao ensino em geral e a todos os profissionais e a toda a gente. Finalmente o idealismo de uma sociedade melhor vai acontecer.
Os doutores da praça do tipo Nuno Crato e Medina Carreira já estarão ao par? O romantismo da educação que tanto criticam terá entrado no mundo empresarial?
Produtos românticos? Nós todos.
Exemplo de um texto coach retirado da internet:
«Portugal: onde o Coaching se faz há seculos - 2010-04-23 14:25:15
É típico e sobejamente conhecido, que os portugueses, em termos gerais, têm uma certa tendência para a “pequenez” e falta de auto-estima, que os leva muitas vezes a permanecerem na sua zona de conforto. Essa atitude de resignação, impede o nosso povo de alcançar maior confiança que lhe permita desenvolver objectivos ambiciosos. Enquanto “homem do coaching” estou habituado a olhar para o presente e futuro e, raramente para o passado; contudo, penso que, neste caso, devemos reflectir um pouco sobre um passado que, embora longínquo, pode dar-nos algumas bases para reflectir... refiro-me à época dos Descobrimentos.
Deste período podemos encontrar a inspiração que tantas vezes nos falta, se pensarmos que aquilo que os Portugueses fizeram, não foi mais nem menos do que ultrapassar continuamente os seus limites e crenças. Até um certo momento olhava-se para o Cabo Bojador como intransponível mas o espírito de querer sempre ir mais além fez de Gil Eanes o responsável pela queda de velhos mitos medievais, abrindo caminho para os Grandes Descobrimentos. Mais tarde, coube a Bartolomeu Dias o feito de, uma vez mais, ultrapassar os limites à altura convencionados, ao conseguiu dobrar o Cabo situado na ponta sul do continente africano. Este feito contribuiu para uma clara mudança do paradigma, fazendo com que o então Cabo das Tormentas, passasse a designar-se por Cabo da Boa Esperança. Estava então aberto um novo horizonte e, com ele, novas oportunidades de expansão e desenvolvimento.
Homens como Gil Eanes, Bartolomeu Dias ou o Infante D. Henrique foram, na minha modesta opinião, os primeiros grandes Coaches do nosso país. Eles conseguiram mobilizar recursos e motivar pessoas para ir mais além, para quebrar medos e crenças, levando-os a superarem-se, criando no Portugal de então um sentimento de grandeza e de permanente vontade de “dar novos mundos ao mundo”.
Por outro lado, podemos afirmar que, salvo pequenas excepções, os portugueses conseguiam criar fácil empatia com os outros povos e ser bem aceites. O sucesso da expansão portuguesa pelo mundo deveu-se, em muito, a esta sensibilidade para os aspectos relacionais que ainda hoje nos caracteriza. E esta é, para mim, uma das características mais importantes que deve estar presente naqueles que pretendem desenvolver projectos e... Pessoas!
Ainda hoje os portugueses são vistos pelos estrangeiros como o povo que sabe receber, cria envolvência e desperta Emoções!.. E esta é, porventura, uma das nossas maiores virtudes... de uma ou outra forma, temos a natural capacidade de desenvolver e aplicar a inteligência emocional com relativa facilidade. O sucesso de portugueses como José Mourinho (entre outros) está, sem dúvida, relacionado com o Emocional. Se considerarmos que na origem da palavra “Emoção” está o termo que vem do latim “motus” (movimento), podemos entender melhor que as emoções são o grande motor para que algo aconteça e se mova...
Nas formações do IICD as pessoas percebem a real importância deste aspecto e ficam habilitadas a saber gerir melhor essas emoções no sentido de um sucesso pessoal e profissional...
Sérgio Guerreiro
Director Executivo/Coach (BizPoint)»
OK! E onde é que os navegadores nos levaram? À colonização exploradora, ao saudosismo e ainda não ao projectismo futurológico. Talvez agora lá cheguemos de coach.