sábado, 1 de maio de 2010
Economia pode rimar com poesia? (2)
No momento que antecede o envio dos jornais para a reciclagem, há uma vontade de revisitação do Expresso, neste caso, do de 24 de Abril de 2010, por sinal, muito pouco abrilino. Folheiam-se os cadernos principais com paragem certa no caderno de Economia (não me perguntem porquê). Acontece, então, a vontade de fixar por citação alguns excertos.
Poema de Herberto Helder, Aos Amigos (a selecção será de Nicolau Santos?):
«Amo devagar os amigos que são tristes
com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem
e estão sentados,
fechando os olhos,
com os livros atrás a arder
para toda a eternidade.
Não os chamo,
E eles voltam profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.»
1. «cem por cento»
«Não se pode tapar o sol com a peneira»
E «Simon Johnson é uma alimária»
E «dias de cão e de especulação»
E «agora não temos saída»
E «um vulcão [...] entrou em erupção»
E que «a Natureza nos venha lembrar
quão frágeis continuamos a estar»
«E quem salva os cidadãos?»
«"Inútil", uma extraordinária aventura»
Inútil, «revista de poesia e de fotos no mercado português»
E «agora, não temos saída»
E é «culpa do vulcão islandês»?
Talvez.
2. «Lítio» / «O petróleo português» / «Minério Portugal / é já o quinto produtor mundial» / «dentro de dois anos a natureza volta a tomar / conta do lugar» / Nem vais acreditar / «É a maior mina de lítio da Europa» / A «Felmica / com sede em Mangualde / é aí que o mineral / é transformado em metal» / com «reabilitação ambiental» / «Quero [...] fazer em Portugal / a primeira fundição / resta-me encontrar o parceiro ideal».
Mas alguma coisa deve correr mal / agora não temos saída / a culpa é do vulcão islandês / ou, então, do fado português.
3. «Tecnologia portuguesa seduz EUA» / «faz sentido avançar assim / aceitar um desafio / dar o passo em frente / e ser reconhecido» / «Amor à primeira vista com a EFACEC» / E com a bandeira, manos, /«Entrego o coração dos georgianos».
Mas alguma coisa deve correr mal / agora não temos saída / a culpa é do vulcão islandês / ou, então, do fado português.
4. «Invasão de cisnes cinzentos» / «modeláveis» / «expectáveis» / «os gestores» / «os empresários» / «podem armar-se / de uma postura / de um pensamento / que os ajude a "farejar" / a «actuar / por antecipação» / a compreender o seu "comportamento" / e saber "navegá-los" quando rebentam».
De metáfora em metáfora / de Aristóteles a Maubossin / a culpa é do vulcão islandês / e das contas que deus não fez.
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