ACTUAL FRAGMENTÁRIA
O século era vinte e um e ela lia o Actual com Cunhal na capa e as artes a seguir. Tudo lhe interessava e nada lhe interessava. Dependia da hora do dia. No saco plástico não faltava papel, que, depois, seguiria para a reciclagem mental e material. Uma revista só de culinária fez as delícias dos olhos cansados. Bem, essa ficaria na colecção seleccionada de cozinheira. Propunha receitas das carnes preferidas: aquelas que não deixam ficar mal a insegurança da eterna aprendiz. O prefixo in era o seu preferido. E tem tudo a ver com o texto imperfeito que produz infinitamente. Ele surge, ela começa a escrever e ele pára por si ou pela interrupção sagrada do homem de (Interrupção mental. Aparece prockorn. Mas isso é o nome do pão com muitos cereais mal moídos. Pesquisa no Google. Ela bem sabia que não era prockorn. O certo é que foi parar a um blogue que comentava as notícias sensacionalistas. A da professora que posara para a Playboy. E a do assassinato de mãe e filha por tresloucado marido/pai. Ali ao lado. Na cidade dela. A família. Sagrada. Não é confiável? Está com os pais e sossega-se. Pode? E era o tacão altíssimo dos sapatos à la mode que gerava a discussão: sim e não à proibição entre argumentos de saúde e de beleza. Mas quem paga a saúde? Sobre isso não escreveram. Bem, felizmente era só uma entrada).
O homem afinal era de Porlock. Pois. A interrupção literária. Kubla Khan e o poeta inglês que era (Vazio cerebral. Volta à pesquisa. Mais fácil agora. Na barra inferior. É só clicar).
E o poeta inglês chama-se Samuel Taylor Coleridge. Aparece o artigo em inglês de Maria Irene Ramalho. Ela até já comprara o livro dos poetas do Atlântico, onde Pessoa é o destaque.
No Outono de 1797, Coleridge lia (Lia: giro, ela tinha tido uma aluna com esse nome) as aventuras de Marco Polo no reino de Kubla Khan quando adormeceu sob o efeito de um medicamento um pouco opiado e teve um sonho poemático acerca do palácio desse reino. Ao acordar, escreveu o sonho poema até ser interrompido pelo homem de Porlock e, embora tenha retomado o poema com mais uma vintena de versos, sempre considerou o poema incompleto por interrupção, face ao poema do sonho. Impensável, ó Colerige, o valor hermenêutico desse acontecimento literário! Se não fosse a interrupção literária os poemas não teriam fim? O fim pode ser lido como interrupção?
Virtual à parte, ela sustenta na mão Poetas do Atlântico – Fernando Pessoa e o modernismo anglo-americano de Maria Irene Ramalho com prefácio de Harold Bloom (e ela admira-se provincianamente com um enorme ponto de exclamação cerebral que não regista). Nessa obra, há um artigo intitulado «Interrupção Poética: um Conceito Pessoano para a Lírica Moderna».
De facto, Fernando Pessoa escreveu O homem de Porlock. Nesse texto, o autor valoriza na arte o sonho e a interrupção externa ou interna e fatal («o "Homem de Porlock", o interruptor imprevisto») bem sentida por ele até ao outramento literário. E por causa desse visitante interruptor «o que de todos nós resta, artistas grandes ou pequenos, [...] são fragmentos do que não sabemos que seja, mas que seria, se houvesse sido, a mesma expressão da nossa alma» (PESSOA, Fernando, 2006: Prosa Publicada Em Vida, edição Richard Zenith, Lisboa, Assírio e Alvim, pp.116-118).
O século era vinte e um e ela lia o Actual com Cunhal na capa e as artes a seguir. Tudo lhe interessava e nada lhe interessava. Dependia da hora do dia. No saco plástico não faltava papel, que, depois, seguiria para a reciclagem mental e material. Uma revista só de culinária fez as delícias dos olhos cansados. Bem, essa ficaria na colecção seleccionada de cozinheira. Propunha receitas das carnes preferidas: aquelas que não deixam ficar mal a insegurança da eterna aprendiz. O prefixo in era o seu preferido. E tem tudo a ver com o texto imperfeito que produz infinitamente. Ele surge, ela começa a escrever e ele pára por si ou pela interrupção sagrada do homem de (Interrupção mental. Aparece prockorn. Mas isso é o nome do pão com muitos cereais mal moídos. Pesquisa no Google. Ela bem sabia que não era prockorn. O certo é que foi parar a um blogue que comentava as notícias sensacionalistas. A da professora que posara para a Playboy. E a do assassinato de mãe e filha por tresloucado marido/pai. Ali ao lado. Na cidade dela. A família. Sagrada. Não é confiável? Está com os pais e sossega-se. Pode? E era o tacão altíssimo dos sapatos à la mode que gerava a discussão: sim e não à proibição entre argumentos de saúde e de beleza. Mas quem paga a saúde? Sobre isso não escreveram. Bem, felizmente era só uma entrada).
O homem afinal era de Porlock. Pois. A interrupção literária. Kubla Khan e o poeta inglês que era (Vazio cerebral. Volta à pesquisa. Mais fácil agora. Na barra inferior. É só clicar).
E o poeta inglês chama-se Samuel Taylor Coleridge. Aparece o artigo em inglês de Maria Irene Ramalho. Ela até já comprara o livro dos poetas do Atlântico, onde Pessoa é o destaque.
No Outono de 1797, Coleridge lia (Lia: giro, ela tinha tido uma aluna com esse nome) as aventuras de Marco Polo no reino de Kubla Khan quando adormeceu sob o efeito de um medicamento um pouco opiado e teve um sonho poemático acerca do palácio desse reino. Ao acordar, escreveu o sonho poema até ser interrompido pelo homem de Porlock e, embora tenha retomado o poema com mais uma vintena de versos, sempre considerou o poema incompleto por interrupção, face ao poema do sonho. Impensável, ó Colerige, o valor hermenêutico desse acontecimento literário! Se não fosse a interrupção literária os poemas não teriam fim? O fim pode ser lido como interrupção?
Virtual à parte, ela sustenta na mão Poetas do Atlântico – Fernando Pessoa e o modernismo anglo-americano de Maria Irene Ramalho com prefácio de Harold Bloom (e ela admira-se provincianamente com um enorme ponto de exclamação cerebral que não regista). Nessa obra, há um artigo intitulado «Interrupção Poética: um Conceito Pessoano para a Lírica Moderna».
De facto, Fernando Pessoa escreveu O homem de Porlock. Nesse texto, o autor valoriza na arte o sonho e a interrupção externa ou interna e fatal («o "Homem de Porlock", o interruptor imprevisto») bem sentida por ele até ao outramento literário. E por causa desse visitante interruptor «o que de todos nós resta, artistas grandes ou pequenos, [...] são fragmentos do que não sabemos que seja, mas que seria, se houvesse sido, a mesma expressão da nossa alma» (PESSOA, Fernando, 2006: Prosa Publicada Em Vida, edição Richard Zenith, Lisboa, Assírio e Alvim, pp.116-118).
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