sexta-feira, 31 de julho de 2015

O GRITO DA ROLA




Teu grito primeiro alerta
Do dia a clarear
«Existo» repetes tu
Sempre sempre sem parar

As rolas da minha infância
Em poema a recitar
Inocentinhas gemiam
Humildes e sem falar

E o mundo a rolar
Com um povo a temer
Meio século a passar
E a rola a gemer

Grita o povo grita a rola
Eu também quero gritar
«Existo» gritamos todos
Neste tempo a rolar

No alto daquele pinheiro
Onde ela está a gritar
Acerta o tiro certeiro
Para aquela voz calar

Jaz a rola inocentinha
No duro daquele chão
Ninguém cala aquele coro
À volta do seu caixão

«Existo» e tenho direito
De gritar como eu quiser
Cansado está o povo
De dobrar e de gemer

Poesia zed, 31 de Julho 2015




4 comentários:

  1. E quando a rola cai ninguém quer saber! Não faltam rolas...

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  2. Gritemos! Juntemos o nosso grito ao da Rola. Que se torne um grito ensurdecedor. E acorde o povo inteiro. E que a Rola não deixe cair.

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  3. Ao ler o grito da Rola, poema tão bem conseguido, pela sua criadora, Maria José, poeta, pedagoga e investigadora, senti uma grande comunhão. Acabava de escrever, um outro grito, "estranha paz," e onde peço à Pomba um voo em busca da liberdade de dizer NÃO, no fim do verão. Um NÃO republicano, em 5 de outubro, já fim de verão.
    E penso que a Zé vai gostar que o transcreva, aqui. No seu blogue. Está como saiu da pena, sem qualquer hesitação.

    Estranha Paz

    Oh pomba da paz!
    Paz ao jeito de maioria silenciosa!
    Paz calada.
    Paz envergonhada
    Paz iludida
    Paz sem rosto
    paz podre. A paz!
    Não faz bem nem faz mal.
    A paz branca.

    Disseram-lhe, vejam bem:
    És a Paz.
    Essa brancura, pomba, tem preço.
    Carregas a paz.
    Os donos do mundo, te ordenam.
    Tão branca, és! És pura. És virgem.
    Aceitas o veredito.
    Voas. Mas sentes as asas presas.
    Como um peso. Presas.
    Voos, somente, os calibrados.
    Tens os dias contados.
    E não ousas.
    Esperas, debicas. Saltitas.

    O milho, dádiva das crianças. Inocência. Branca. De alvura. Ofereçem-te pão.
    Correm atrás de ti, pomba.
    Não entendem.

    Estás escrava! Dos donos do mundo. Deste mundo pequeno.
    Pomba branca de paz, calada.

    Como tu, estamos presos.
    De grades, é certo, libertos.
    Aparência: liberdade branca?

    Diz não, pomba branca.
    Submerge o medo debaixo das tuas asas. São tuas. Só tuas.
    Voa. Teu voo, agarra.

    E voa, longe, muito longe.
    Voo planado,
    Voo batido ou remado.
    Voo picado
    Voo ondulado.
    Bebe liberdade. Despeja o medo.
    E, regressa, depressa.
    Volta, desenvolta. Asas soltas.

    No combate ao teu e nosso aprisionamento.
    Comunidade livre. A decisão.
    Sem medo.

    Vençámo-lo: no fim do verão,
    um rotundo e republicano NÃO.

    31jul15
    Margarida



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    1. Cadeia de textos em mentes encadeadas
      E neste momento preciso a rola selvagem lança o seu grito real
      Enquanto a pomba voa ainda sobre o lamaçal

      Que ela deixe de arrulhar
      Que grite sem parar
      Que navegue longe
      Que sacuda as asas
      Até a liberdade alcançar

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