quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Hélia Correia - Um bailarino na batalha e o bailado Xenos de AKram Khan



Estamos a ler, no Clube de leitura da AMABA, a última obra de Hélia Correia, Um bailarino na batalha. A obra abarca um conjunto de outras obras num diálogo criador. Como obra fundadora do imaginário, a autora aponta o bailado Xenos de Akram Khan[1], na entrevista ao semanário SOL, de 28 de outubro de 2018:

«Este título claramente convidava para outro ambiente. A sua escrita teria de ser da ordem da poesia, não de uma narrativa estruturada. Mas isto serve para dizer que sei de cor as peripécias que levaram a que este texto surgisse. Foi de algum modo abençoado por uma coincidência: o último solo de um bailarino e coreógrafo de quem muito gosto: Akram Khan. Que estreou em Atenas uma dança chamada Xenos».

Xenos explica a capa da obra - «um sonho cumprido»: «o cartaz com o derradeiro solo de Akram Khan, Xenos» - palavras da autora no seu discurso de aceitação do prémio da APE, publicado no JL de 31 de julho de 2019.
Nesse mesmo discurso a autora discorre sobre a palavra grega Xenos, que significava hóspede / estrangeiro, dentro da civilização hospitaleira da Grécia antiga (xenia), tal como é apresentada na Ilíada e na Odisseia. Por isso, Zeus, o pai dos deuses era designado por Xénios - «protetor dos visitantes e vingador dos maus tratos exercidos sobre estrangeiros».
A obra em causa tem por base a difícil caminhada pelo deserto dos migrantes em direção à Europa e a receção europeia, reveladora não da xenia mas da xenofobia.



[1]
14/11/2019 - O coreógrafo britânico Akram Khan vai apresentar uma reflexão sobre a perda de humanidade provocada pela guerra no espetáculo 'Xenos', ...