segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

POLISSEMIA - CABEÇA (Linguística Cognitiva)



Como pôr a cabeça no lugar
(estudo da polissemia em “cabeça”)

I. Introdução
II. Razão da escolha da forma lexical ‘cabeça’ para nomear tal referente
III. Conclusão
I. Introdução

A Linguística Cognitiva é uma abordagem perspectivada como meio de conhecimento em conexão com a experiência humana do mundo. As unidades e estruturas da linguagem são estudadas como manifestações de capacidades cognitivas gerais, da organização conceptual, de princípios de categorização, de mecanismos de processamento e da experiência cultural, social e individual. Interessa-se pelo conhecimento através da linguagem e procura saber como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo. É um tipo de linguística pragmaticamente orientada, tanto teórica como metodologicamente. Sintoniza com várias escolas e teorias que se concentram no uso da linguagem e nas funções por esta desempenhada, nomeadamente com a linguística funcional e tipológica. A sua grande novidade reside no facto de a função cognitiva da linguagem passar a constituir o objecto de uma investigação sistemática e coerente[1].
            A Linguística Cognitiva dá prioridade à Semântica, facto que decorre da perspectiva cognitiva de considerar a categorização (o processo mental de identificação, classificação e nomeação de diferentes entidades como membros de uma mesma categoria) a função primária da linguagem e, consequentemente, a significação «será o fenómeno linguístico primário»[2].
            Augusto Soares da Silva, a este respeito, afirma ainda que «provavelmente uma das primeiras razões da afirmação ou mesmo do sucesso da Linguística Cognitiva terá sido o reconhecimento explícito de um fenómeno linguístico do senso comum: o significado múltiplo das expressões linguísticas ou polissemia». E acrescenta que «a tendência para o estabelecimento de distinções e de relações entre os usos de uma expressão tornou-se uma constante e a descrição da polissemia quase que uma obsessão, a tal ponto que se poderá perguntar o que é que resta à Linguística Cognitiva sem a polissemia»[3].
Dentro dos estudos semânticos, como se pôde ver, o estudo da polissemia desperta o maior interesse entre os linguistas cognitivos. Encaram-no como efeito da prototipicidade e estudam-no no “modelo baseado no uso”. Os vários usos do mesmo item lexical organizam-se à volta de um centro prototípico, derivando por parecenças de família em relação ao núcleo.
Os estudos dos linguistas cognitivos têm demonstrado que a conceptualização de domínios abstractos é feita em termos metafóricos a partir de domínios concretos e familiares. A metáfora e a metonímia são consideradas instrumentos e modelos cognitivos e são perspectivadas como fenómenos conceptuais. A nível lexical, são elas as principais responsáveis pela extensão semântica dos itens lexicais. «São estas metáforas e metonímias generalizadas, convencionalizadas e lexicalizadas as mais importantes do ponto de vista cognitivo», como afirma Augusto Soares da Silva. E explica a distinção entre as duas: a metáfora envolve domínios diferentes da experiência, «como uma projecção da estrutura de um domínio-origem numa estrutura correspondente de um domínio-alvo; a metonímia realiza-se dentro do mesmo domínio, activando ou realçando uma categoria ou um sub-domínio por referência a outra categoria ou a outro sub-domínio do mesmo domínio»[4].
            No presente trabalho, pretende-se apresentar uma contribuição para a interpretação do item lexical “cabeça”, nos seus múltiplos significados,      privilegiando-se, portanto, a perspectiva semasiológica. Procurou-se, na medida do possível, compreender a experiência vivida, através das expressões linguísticas e dos seus significados, num trabalho interpretativo, com base nas acepções apresentadas no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa[5], no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa[6], no Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, nos corpora fornecidos pela Linguateca e nos textos da Internet, através da “pesquisa avançada” do motor de busca Google.       

II. Razão da escolha da forma lexical ‘cabeça’ para nomear tal referente
     1.Tendo na devida conta a conclusão apresentada por Augusto Soares da Silva, sobre a natural integração das perspectivas sincrónica e diacrónica para a interpretação da mutabilidade proveniente da flexibilidade inerente dos significados e consequentemente da polissemia, verifique-se de relance o que se passa no domínio etimológico.[7] ‘Cabeça’ remonta ao latim ‘capitia’, plural do neutro ‘capitium’[8]. A forma ‘capitia’ remonta à fase da média latinidade, sobrepondo-se ao clássico ‘caput’. Por sua vez este vocábulo cedo originou a forma popular ‘capum’ que se tornou corrente. Daí que corram em paralelo formas românicas derivadas de ‘capitia’ (português ‘cabeça’) e de ‘capum’ (português ‘cabo’, francês ‘chef’). A palavra portuguesa, sob a forma de ‘capeza’ e ‘cabeza’, está documentada a partir da primeira metade do Séc. XII.[9] Quanto à palavra “cabo” na acepção de ‘parte principal, cabeça de’, os dicionaristas (Dicionário da Academia e Dicionário Aurélio) distinguem-no do seu homónimo “cabo” com o significado de ‘pega, parte por onde se agarra ’. O primeiro deriva de capum e o segundo de capulum, com origem no verbo clássico capio, logo, relacionado com o sentido de ‘apanhar, tomar, agarrar ’. Distinguir-se-á assim o “cabo” da vassoura do “cabo” militar. O conceituado Dictionnaire etymologique de la langue latine de Ernout e Meillet confirma a homonímia ao assinalar como independentes capulus, ou capulum,  derivados de capio, e capus, da baixa latinidade, derivado de caput[10].

      2. Augusto Soares da Silva responde à pergunta formulada, em termos de conceptualização para os casos em geral, que «a nomeação é determinada pelas características semasiológicas e onomasiológicas dos itens envolvidos e por factores contextuais» e explica que «isso tem a ver, por um lado, com a prototipicidade semasiológica desse referente no campo de aplicação dessa forma e, simultaneamente com a saliência onomasiológica dessa forma para nomear o referente e, por outro, com factores contextuais de natureza pragmática e sociolinguística».[11]
            Tendo em conta que a posição filosófica e epistemológica da Linguística Cognitiva é o experiencialismo, entendido como «a perspectiva segundo a qual a cognição (e logo também a linguagem) é determinada pela nossa própria experiência corporal (o “corpo na mente” […])»,[12] parece evidente que o homem, confrontado com o seu corpo, tenha sentido necessidade de falar sobre ele. A cabeça, sede de quatro sentidos de apreensão do mundo, não teria sido a primeira palavra a aparecer. Certamente, no domínio da hipótese, o homem terá sentido necessidade de a nomear quando feria essa parte do corpo ou quando nela sentia dores ou quando nela carregava objectos ou quando precisava de a proteger. A partir do momento em que o homem reparou na forma, na posição de extremidade e de oposição em relação aos pés, construiu a  imagem mental, e, por similaridade e contiguidade, foi aplicando a designação a outros referentes, tendo como critério a forma arredondada e/ou dilatada e/ou o posicionamento de extremidade (nem sempre superior) em relação a um corpo. Mais tarde, terá reflectido sobre ela e, à medida que a ia descobrindo, iria chegando ao conceito científico de cabeça. É por esse último sentido que os dicionaristas registam a primeira acepção do item lexical «cabeça». Assim, o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa[13] regista: «1. Parte do corpo dos animais situada na extremidade superior, no caso dos bípedes, ou na anterior, nos outros animais, que contém a maior parte dos órgãos dos sentidos e o encéfalo»; o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa regista: «1. A parte superior do corpo dos animais bípedes e a anterior dos outros animais, onde se situam normalmente o encéfalo e os órgãos dos sentidos da visão, audição, olfação e gustação»; o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa regista: «1. ANAT. Uma das grandes divisões do corpo humano constituída pelo crânio e pela face e que contém o cérebro e os órgãos da visão, audição, olfacto e paladar».
            Dos Dicionários e dos corpora, registam-se os seguintes exemplos:
«O corpo humano divide-se em cabeça, tronco e membros.
O pássaro baixou a cabeça e desceu à sua altura […].” (F. Da Costa, Viúvo, p.10).
Esta guerra é dura. Mundial aprovava só com a cabeça, enquanto devorava a carne enlatada e a mandioca” (Pepetela, Geração da Utopia, p.18)»[14] .
«Cortou-lhe a cabeça com uma navalha.
Momentos depois, atingia mortalmente na cabeça um seu vizinho, José Maria Soares, agricultor de 77 anos, a trabalhar à porta de casa».[15]
            Analisando as acepções apresentadas, verifica-se que os dois primeiros dicionários apresentam uma definição de cabeça de animal e referem a sua posição de extremidade superior, no caso dos bípedes, ou anterior, no caso dos outros animais, em relação ao corpo. O terceiro define a cabeça humana, destacando a sua anatomia e, na sequência imediata, reúne as acepções nesse domínio.

2.1. A posição e a forma em “cabeça”

2.1.1. Cabeça - extremidade arredondada e mais dilatada de um corpo

            Como as primeiras acepções apresentadas abrangem os humanos e os restantes animais, nem todos com cabeça redonda, falta focar a forma arredondada da cabeça humana, característica relevante para as operações de similaridade e/ou de contiguidade conducentes à designação de outros referentes. A forma arredondada, do conhecimento dos falantes pela sua experiência, nem sempre é anotada pelos dicionaristas. A posição de extremidade não é forçosamente a de extremidade superior, por vezes é a de extremidade inferior, no caso da cabeça dos vegetais (cabeça de nabo, de alho).
a)     O dicionarista António Houaiss é explícito quanto à forma arredondada, no exemplo apresentado, bastante frequente em Anatomia: «1.1.ANAT. Extremidade arredondada de um osso» (DH). Nesta acepção,     registaram-se os seguintes exemplos da linguagem no uso:
o   «O crescimento dos ossos longos acontece principalmente numa região, a epífise ou cabeça do osso.» [16]
o   «... OSSO ESTRIBO. É o menor e mais medial dos ossículos. Estribo: cabeça, ramo anterior, ramo posterior, base.»[17]
o   «... Formado pelo osso: úmero. ÚMERO. Úmero: cabeça do, colo anatômico, colo cirúrgico, tubérculo maior, tubérculo menor, sulco intertubercular, ...»[18]
 
b)     «6.3. MED. A extremidade amadurecida de um abcesso, ou de outro processo inflamatório (c. de um furúnculo). DH» Exemplo:«... Aplique esta massa sobre o abcesso ou furúnculo de forma que o açucar possa tocar a área onde a cabeça (olho) do abcesso, parece formar-se. ...»[19].
c)       «6.4. infrm. a glande do pénis» (DH). «6. Fam. Extremidade do pénis = glande» (DACL e DALP). Exemplos: «O pênis está dividido em partes internas e externas. O pênis externo está dividido em três partes: cabeça, corpo e raiz.[4] A cabeça é chamada glande e é o ponto mais sensível do pênis»  (Pênis – Wikipédia).

d)     «7. bolbo ou tubérculo de certos vegetais, com forma arredondada. Comprámos três cabeças de nabo para a sopa. cabeça de alho, bolbo deste vegetal» (DACL). No caso destes vegetais, a forma é redonda, mas a posição não é de extremidade superior, mas de extremidade inferior. A similaridade com a cabeça humana provocou a metáfora conceptual no seu movimento unidireccional do domínio origem para o domínio alvo.
Exemplos nas receitas de culinária e nas listas dos mercados hortícolas são muito frequentes. “Cabeça de alho” surge com mais frequência do que “cabeça de nabo, porque entra não só na culinária mas também em muitas receitas de medicina caseira e natural. “Cabeça de nabo” surge por vezes como insulto, significando pouca inteligência.
o   «Esmagar os dentes de uma cabeça de alho. Colocar no álcool.»[20]; «... Ingredientes: 100 gramas de manteiga 1 cabeça de alho picado bem miúdo 1 cabeça de alho descascado 1 copo de vinagre de vinho branco ...»[21].
o    « ... 750 gr de batatas, 2 cenouras grandes, 1 cabeça de nabo, ... Cozem-se as batatas, as cenouras, a cabeça de nabo, a cebola, o dente de alho e os ovos...» [22].
o   Menos frequente é cabeça de nabo como insulto:
«... Não sei se ainda tenho cabeça para escrever estes calhaus. ... Alguns apresentam propostas que não têm nem pés nem cabeça : são cabeças de nabo. ...»[23].
Insulto político para designar o último Presidente da República antes do 25 de Abril de 1974: «Nas eleições de 58, os da União Nacional colocaram nessa parede um retrato do cabeça de nabo, entenda-se Almirante Américo Tomás. ...»[24] .
e)     «8. Parte do cachimbo onde se coloca o tabaco» (DACL). Exemplo: « Desta forma você manterá o formato da cabeça do cachimbo e evitará a quebra. ... Se desejar esvaziar o cachimbo batendo-o, segure-o pela cabeça e nunca ...»[25]
          
f)      «5. Extremidade superior e mais dilatada de um objecto ou coisa ( exs: cabeça do prego ou  do alfinete, cabeça do dedo).»[26], em DACL, corroborado pelo DALP (10. « A extremidade mais dilatada de um objecto: a cabeça do prego.»), com os seguintes exemplos: Pegou no prego pela cabeça. Bateu com o martelo na cabeça do dedo. Cravo de cabeça. Cabeça de alfinete. O Dicionário Houaiss acrescenta em «6.2. A extremidade mais larga de um prego, cravo, tacha, rebite, parafuso, sobre a qual se bate para cravá-lo ou é usado para atarraxá-lo.» A “cabeça”, nos referidos objectos, é de grande importância, na distinção pormenorizada dos referentes.
Sobre a cabeça do prego, nas recolhas feitas, encontraram-se exemplos que provam a importância da “cabeça” na definição de cada modelo de prego:
« ... Prego Anelado Prego Ardox Prego Cabeça Dupla Prego com Cabeça Prego Galvanizado Prego para Taco Prego Quadrado Prego Sem Cabeça Prego Telheiro ...»[27].
            Na recolha da informação sobre a “cabeça” do prego, verificou-se a descrição verbal do objecto e a correspondência com a imagem. Quanto à forma da cabeça, pode ler-se que a forma mais frequente é definida como «cónica» «axadrezada» ou «lisa», surgindo também o adjectivo «chata» para a cabeça, por oposição a «cónica».[28]
            Concluiu-se que perante o referente prego foi possível fazer-se uma categorização pormenorizada, através da presença ou ausência da cabeça e da sua forma. Poder-se-á então falar de variação formal, no sentido em que Augusto Soares da Silva a refere quando diz que «há dois aspectos a ter em conta na selecção onomasiológica de um nome para um referente: a escolha da categoria conceptual para a identificação ou descrição [prego] e a escolha do item lexical para a nomeação dessa categoria [prego com cabeça / sem cabeça / com cabeça dupla]». O primeiro aspecto pertenceria à perspectiva onomasiológica e o segundo à variação formal.[29]
            Na recolha feita, surgiu a adivinha que se transcreve: «... Qual a cabeça que não tem medo de pancada? (cabeça do prego)».[30] Analisando o texto na perspectiva do modelo network, verifica-se que “cabeça”, no corpo da adivinha, representa a categoria como um todo, que, ao ser restringida pelo sentimento do não-medo de pancada, elimina o centro da prototipicidade de ‘cabeça humana e animal’, passando por contiguidade para o protótipo dos ‘objectos com cabeça’, onde o referente prego se encontra.
            A expressão «cabeça-de-prego» estende-se a outros referentes, pelo processo conceptual dinâmico da similaridade (a metáfora conceptual entre dois domínios – o da imagética da cabeça humana, o domínio-origem, e o do prego com a sua cabeça dilatada e arredondada, o domínio-alvo) e da contiguidade (no domínio dos referentes), em combinação.
Está registada no Dicionário Aurélio: «Bras. 1. Em certas regiões, larva de   mosquito. 2. Pequeno abcesso cutâneo». Com exemplos múltiplos registados na Internet: 
na acepção 1 - «Cabeça-de-prego: inseto provido de escama circular,     cor violácea escura, ...» [31]; informação de saúde pública: «Dengue ... educativo elaborado com orientações sobre prevenção ao vírus do Dengue. Identificar e eliminar as larvas (cabeça de prego), que aparecem na água. ...»[33].
na acepção 2 - «Curiosos Remédios Populares do Nordeste... Para o furúnculo estourar, por si só, nada como colocar no olho da cabeça-de-prego, um emplastro feito com o couro do bacalhau, cru.»[32].

·        A expressão aparece para designar a «Cochonilha cabeça de prego rosa ( Chrysomphalus dictyospermi )»[34].  E, ainda, como insulto: “Vocês acham que eu vou perder a chance de ver Michael detonando aquele 'cabeça de prego feioso' ?????" (Richard Wagner Peninque Machado, Santos / SP, ...»[35].
·       E, perdendo o arredondamento e a dilatação, na alegoria da relação comunicativa professor – aluno versus martelo – cabeça de prego : «Se existe público para o professor show-man, dá-lhe show-man. Se existe público para o professor instropecto, idem. O que não pode é pensar como o martelo aquele ditado, que enxerga tudo com cabeça de prego»[36].
 
 g) Cabeça de alfinete
            A expressão cabeça de alfinete funciona com o significado de pequenez no limite do visível. Repare-se ainda nas expressões recolhidas da Internet: «... que a cabeça de um alfinete tem uma dimensão linear de 1/16 de polegada. Ampliada em 25 mil diâmetros, a área da cabeça do alfinete seria equivalente às ...»[37]; «... O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. ...»[38]; «... todos os volumes da Enciclopédia Britânica na cabeça de um alfinete. ...Se for ampliada em 25 mil diâmetros, a área da cabeça do alfinete será ...»[39];«... Nesta escala, Mercúrio seria uma cabeça de alfinete girando a uns 25 metros de ... Marte, um pouquinho maior que a cabeça de alfinete que representa…»[40].
            Dos corpora, regista-se o seguinte exemplo: «Foi essa cápsula do tamanho de uma cabeça de alfinete que os médicos encontraram na autópsia.» – a cápsula assume a forma arredondada a que acresce o grau de pequenez, fazendo surgir a imagem da cabeça do alfinete: mais dilatada do que o corpo, arredondada e pequeníssima.
            
 h) ainda dos corpora  da Linguateca, regista-se «a cabeça da escavadora», arredondada, mas numa posição de anterioridade:
«É composto por uma cabeça escavadora, parecida com uma roda dentada, com pontas de carboneto de tungsténio.» «Depois da cabeça vem uma autêntica fábrica ambulante que tritura as pedras e as envia para o exterior, ao mesmo tempo que vai enfiando uns aros em betão armado, impermeáveis e resistentes a uma pressão de 200 bars, que revestem o túnel.»
            A comparação com a roda dentada, confirma a característica arredondada, apesar de dentada, e o segundo exemplo acentua a posição de anterioridade da parte da máquina referida.
            
 i) A característica arredondada da cabeça humana encontra-se em expressões linguísticas depreciativas que acrescentam à forma arredondada a característica oca que insere no significado o sentido de ‘sem miolo’, e consequentemente, sem racionalidade, sem bom senso, sem juízo:
  • ·       «cabeça-de-coco», com entrada em DALP – «1. Bras. Pessoa desmiolada ou muito distraída» – e em DACL – «1. Pessoa que regula mal, desmiolada, oca. 2. Pessoa de pouco tino ou que se esquece facilmente das coisas». A expressão é frequente, sobretudo no português do Brasil:o   em exemplos semelhantes ao registado: «Rui Barbosa: … assim como de um sujeito de escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar senão breves análises e chochas tolices. ...»[41]; «... VAI SE DESCUIDAR E VAI TOMÁ UMAS VALENTE FERRADA NESSA TUA CABEÇA DE CÔCO! MANÉ TU VAI PERDER TUA CABEÇA DE TANTA FERRADA QUE TU VAI TOMÁ NESSE CÔCO! ...»[42].. 
    o   «Cabeça-de-coco» aparece ainda em descrições zoológicas, não referidos pelos dicionaristas: «... Periquito-de-bochecha-parda – Aratinga pertinax Jandaia-de-barriga-laranja - Aratinga cactorum Periquito-cabeça-de-coco - Aratinga aurea ...»[43]; «Fosse a pomba dubando, fosse um casal de maritacas da cabeça-de-coco»[44].
  • ·       «cabeça-de-abóbora», com entrada em DACL – «Fam. Pessoa sem juízo, desmiolada»; nesta expressão, às características já referidas - cabeça arredondada e oca – acrescenta-se o tamanho: cabeça grande, arredondada e oca. Recolheram-se os seguintes exemplos da Internet, com o significado de imbecil:
 «... Só me lembra o cabeça de abobora. è capaz de dizer uma coisa e o seu contrário. Como se fossemos todos imbecis. Estamos entregues ao piorio.»[45]; « ... É um débil mental! que a mãe fechou no quarto com o PC porque tem vergonha dele. Cresce seu cabeça de abóbora Twisted Evil ...»[46];  « ... Por falar em fachos que voaram para o Brasil recomendo o livro "O Cabeça de Abóbora" do Zé Vilhena, sobre as desventuras do Américo Thomaz. Hilariante. ...»[47] (o mesmo Presidente referido por cabeça de nabo, em exemplo anterior).
  • ·       «Cabeça-de-alho-chocho», mantém a característica ‘arredondada’ e introduz o cambiante de atrofiamento do seu conteúdo murcho, seco, e, por isso, sem nada dentro. O Dicionário da Academia regista: «Fam. Pessoa distraída, que se esquece facilmente das coisas, pouco assente. = CABEÇA-DE-VENTO (Fam.), CABEÇA-NO-AR (Fam.), DISTRAÍDO, ESQUECIDO. Ela esqueceu-se pela décima vez de me trazer o que lhe pedi; é uma cabeça-de-alho-chocho! Aquela cabeça-de-alho-chocho perdeu o avião».
            Exemplos retirados da linguagem no uso da Internet: «Expressões Perder a cabeça. Cabeça-de-alho-chocho. Sem pés nem cabeça. Atirar-se de cabeça.»[48]; «Expressão do dia «Já lhe chamaram «cabeça de alho chocho»?! Queriam certamente dizer que, era distraído, dormia muito, era pouco perspicaz.»[49]; «... A cabeça é uma das partes mais importantes do corpo humano. ... ou cabeçorras, as cabeças de alho chocho, as cabeças de fósforo, as cabeças frias»[50].
  • ·       «Cabeça-de-negro», item lexical significando o nome de um bolo de chocolate, arredondado, em forma de cabeça: bolo cabeça-de-negro (especialidade de uma pastelaria bracarense). É frequente ouvir-se: Eu prefiro o bolo cabeça-de-negro. Eu encomendei o bolo cabeça-de-negro.
      Da Internet, registou-se: «SOBREMESAS ... TAÇA DA FELICIDADE BOLO CABEÇA DE NEGRO BOLO MESCLADO…»[51]; «CHOCOLATE E IDENTIDADE* ... nome racista de "la tête du nègre" [cabeça de negro": um bolo de chocolate.em forma de bola, vazio no interior ("como uma cabeça de negro burro").»[52].
Apareceu ainda a designação na seguinte acepção: «CABEÇA-DE-NEGRO. É uma bomba de médio poder explosivo, muito usada nos festejos de S.João»[53].Nesta designação, os factores externos e contextuais do olhar racista são bem visíveis na construção da metáfora conceptual.
      Num acto de compreensão global das expressões assinaladas, acede-se ao conceito que origina cada uma das metáforas, numa projecção do sentido do domínio origem sobre o domínio alvo, desencadeando um novo sentido para o referente em destaque.

2.1.2. Cabeça – parte superior e mais dilatada de um corpo

                        A forma arredondada não está presente nos exemplos que se seguem, mas a dilatação da forma superior, confirmando, assim, a acepção abrangente já registada - «Extremidade superior e mais dilatada de um objecto ou coisa»:
a)     «19 Arquit. Pedra maior e mais resistente que se coloca em pontos submetidos a maior esforços» (DACL, e também registado em DALP e em DH).
b)     «13. Alv parte mais larga da pedra, que o pedreiro usa para dar forma ao paramento dos muros» (DH).
c)     «1.3.ANAT. Extremidade mais larga de um órgão» (DH).
d)     Dos corpora da Linguateca, do glossário da escalada na rocha, foram seleccionados os seguintes exemplos comprovativos: «Head - Dispositivo de ancoragem (BWP) para escalada artificial, também chamado de blob. Possui uma cabeça de metal maleável presa a um cabo de aço com uma alça na ponta para engate de mosquetão. A cabeça é martelada e molda-se ao relevo da rocha, fixando-se a ela. Quando a cabeça é de alumínio, chama-se alumahead. Quando é de cobre, copperhead. Quando o cabo é circular - para uso em tetos - chama-se circlehead. Hexcentric - Entalador formado por uma cabeça de alumínio em forma de prisma de base hexagonal irregular e um cordim. Em fendas horizontais, a cabeça é instalada de tal forma que a carga tende a fazê-la girar, travando-a mais fortemente.»     
Destes exemplos pode deduzir-se que o mesmo processo imagético acontece em Português e Inglês, uma vez que «head» é a designação inglesa para cabeça.      

            Reflectindo sobre os exemplos apresentados, e, na sequência da apresentação teórica, conclui-se, na base da representação do esquema apresentado por Augusto Soares da Silva,[54]que através do princípio da similaridade (de metáfora em metáfora) e pelo princípio da contiguidade (de referente em referente), nos encontrámos afastados da cabeça humana (sem, contudo, a abandonar) e nos situámos no universo da escalada da rocha, levando várias cabeças: a nossa, a dos objectos referidos, e, certamente, a de outros.     

            Dentro da referida interpretação esquemática, apresentam-se  algumas expressões citadas como conclusão sistematizadora:

Metáfora
Metonímia

função da relação
conceptual

“raciocínio
imagético” em expressões depreciativas aplicadas à cabeça dos humanos:
Cabeça-de-abóbora
Cabeça-de-alho-chocho
Cabeça-de-nabo
Cabeça-de-coco
Cabeça-de-prego, etc.
Mudança referencial (para nomes de referentes, por similaridade com uma ou mais características comuns ao referente e à cabeça humana) da cabeça humana para a plurirreferência: cabeça de alho, cabeça de nabo, cabeça do osso,
cabeça do prego, cabeça da taxa, cabeça do parafuso, cabeça de alfinete, cabeça de cachimbo, cabeça da escavadora, bolo cabeça de negro, bomba cabeça de negro, cabeça da pedra, etc.
natureza da relação conceptual

Por similaridade conceptual com o vegetal ou objecto introduzidos na designação.
Por contiguidade (de referente em referente)
           
            Nos exemplos referidos como metafóricos, como se explicou, a designação resulta de uma comparação ente o domínio origem e o domínio alvo; nos exemplos referidos como metonímicos, há uma mudança de referente. È de salientar que o corpo desse referente apresenta similaridades de forma e/ou de posição, com a cabeça humana e, raramente, com a cabeça animal. Por raciocínio imagético, olhando o corpo do referente, atribuíram-se-lhe características de “cabeça”, que levaram o sujeito a designar por similaridade aquele referente por “cabeça”. Conclui-se, portanto, que há uma relação conceptual entre a metáfora e a metonímia, nos casos estudados.
            Poder-se-á concluir também que o centro nuclear prototípico “cabeça – extremidade dilatada (arredondada ou não) de um corpo” é bastante produtivo, não sendo, o único, como se verá.

2.2. A posição cimeira da “cabeça”

2.2.1. cabeça - parte de cima, parte superior de alguma coisa

             A acepção agora analisada já não tem em conta a forma, mas apenas a posição dianteira e superior.
            Tendo presente os registos da primeira acepção dos Dicionários consultados que iniciam a definição de cabeça pela sua posição superior em relação ao corpo dos bípedes, e correndo os dicionários, os corpora da Linguateca e textos da Internet, conclui-se que a acepção registada no DACL com o nº 9 – «Parte de cima; parte superior de alguma coisa»[55] – é bastante produtiva e percorre vários territórios da significação. Dentro da mesma acepção, o mesmo dicionário regista ainda: «10. Primeiras linhas ou primeiros elementos de uma folha escrita ou impressa de uma lista… = cabeçalho. Na cabeça da carta estavam as moradas. O seu nome constava na cabeça da lista. Cabeça da página, Gír., o seu topo, entre os jornalistas.».
Da Internet recolheram-se os seguintes exemplos:
«O primeiro elemento da lista geralmente é chamado de "cabeça" da lista, ... A função tail seleciona todos os elementos da lista com excepção da"cabeça"»[56].
«A cabeça da página seguinte diz que “Cachoeira afirma que Waldomiro o coagiu”.»[57]
Com significado do princípio de um trilho, encontrou-se a designação de cabeça de trilha, no exemplo:
«... se dividiu em três grupos (cabeça da trilha, meio da trilha, e rabo da trilha)»[58].
 «11. Parte da frente de um cortejo, manifestação, desfile… Na cabeça da manifestação iam os delegados sindicais. 12.Mil. Elemento mais avançado de uma coluna militar.»
             O Dicionário Aurélio apresenta acepções semelhantes e acrescenta: «17. Bibliol. A parte superior do livro, de sua encadernação ou de sua lombada, de uma página ou de uma tabela. 18. Mar. Proa (1). 21. Bras. A parte superior da queda de água, quando separada da inferior, denominada rabo da cachoeira».
Exemplos recolhidos da Internet:
«... Uma trilha leva os aventureiros até a cabeça da cachoeira, onde começa a queda.»[59]; «... de nós até estavam prevenidas, mas sombrinhas e guarda-chuvas, naquele momento,não protegiam mais do que a cabeça da cachoeira de água que caía do céu! ...»[60].
           
O Dicionário Houaiss acrescenta: «29. Quím. Na destilação, primeira fracção a ser produzida (cachaça da cabeça)». Exemplos:
«Cachaça proveniente de dornas que ultrapassaram este tempo é separada junto com a cachaça dacabeça”. A garapa fermentada é chamada de vinho. ...»[61];
 "Conheça o Museu da Cachaça
«... Como o álcool tem um ponto de evaporação mais baixo que a água, ele se desprende
da garapa primeiro produzindo o que se chama "cachaça de cabeça", ...»[62].
            
 Ligadas à acepção prototípica referida, encontram-se as expressões, no Dicionário da Academia:
  • «À cabeça, loc. adv., 2. à frente, a liderar. “Formámos a dois e dois. E, com o senhor professor à cabeça, partimos para as avenidas novas […](J. Gomes Ferreira, O mundo dos Outros, p.65.).
  • «À cabeça de, loc. prep., no início, no começo. À cabeça do livro, à cabeça do mês».

2.2.2. cabeça – cidade ou qualquer terra que é a mais importante da circunscrição.

            Na base da acepção do Dicionário da Academia, corroborado pelos outros dois dicionários consultados, está a conceptualização da metáfora – x é y, isto é, cidade (domínio alvo) é cabeça (domínio fonte), parte mais importante de um conjunto conceptualizado como um corpo com um certo grau de homogeneidade. Na base desta conceptualização, registam-se os exemplos:
·       «Cabeça de comarca[63], sede da administração territorial. “Foi então que o intendente geral da Polícia [..] fez expedir para todos os provedores da comarca do reino a circular […]J.Dantas, Amor em Portugal, p.363)[64].
·       Cabeça de concelho[65] «a cidade era cabeça de concelho»[66].
·       Cabeça de distrito[67], de diocese[68]. Braga é cabeça de distrito e de diocese.
·    Cabeça de freguesia – verifica-se uma baixa de frequência obtida em relação às outras expressões referidas [69].

2.2.3. “Cabeça – O que é mais importante, o que está em primeiro lugar.”


 Dentro da mesma lógica metafórica da acepção anterior, inscreve-se a acepção supra-citada, com uma abrangência maior, ao ponto de poder incluir a anterior.
  •      Cabeça da notícia [70] - no caso da notícia, a primeira parte do texto é a sua cabeça e reúne a principal informação, pelo que é considerada a parte mais importante.
  •       Cabeça de casal [71] – começou por ser o marido, considerado para todos os efeitos o chefe da família; actualmente, pode ser qualquer pessoa da família, desde que reúna determinadas condições e seja legalmente constituída.
  •       Cabeça de equipe [72] no sentido de líder de um grupo constituído em equipe (e não equipa, pois para esta não se encontrou qualquer exemplo da linguagem no uso dos textos da Internet).
  •       Cabeça de grupo – expressão de frequência mínima, mas passível de ser usada [Resultados 1 - 1 de cerca de 3 para "cabeça da grupo". (0,27 segundos)].
  •     «Cabeça de lema, Ling., forma tomada como representativa de um paradigma de flexão.»[73]
  •        «Com cabeça, tronco e membros, que é constituído por todas as partes, que está completo.»[74]
  •        “Cabeça de lista” e “cabeça de série” cabem também nesta acepção, uma vez que são os primeiros elementos, os mais importantes e os principais da lista ou da série, bem como “cabeça de cartaz”, expressão que significa a atracção do espectáculo, logo o artista ou o grupo principal e em destaque.

      Nos exemplos referidos, verifica-se a grande consideração que o ser humano tem pela cabeça, no conjunto do seu aparato corporal. Ele considera-a a parte mais destacada e a mais importante, o que se torna visível nas metáforas conceptuais formuladas e já lexicalizadas.

2.3. Cabeça – parte da cabeça humana que normalmente está coberta pelo
couro-cabeludo ou pelo cabelo.
           
            A acepção supra-citada foi retirada do Dicionário da Academia, registada como segunda (2). É muito frequente na linguagem quotidiana quando o locutor se refere:
  •        à colocação de objectos na cabeça, designando ‘cabeça’ o lugar onde se colocam objectos. Exemplos: Põe o chapéu na cabeça. Levava um laço na cabeça. Tinha um lenço na cabeça. Levava um penso na cabeça. Ergueu o cântaro e pô-lo na cabeça. Tinha piolhos na cabeça.
  •       à cabeça como local de agressão ou ferimento. Exemplos: Deu-lhe uma pancada na cabeça. Fez um lanho na cabeça.
  • ·       a algo que acontece a essa parte da cabeça: Rachou a cabeça e sangrou muito.[75]
  • ·       à referência englobante do exterior lavável da ‘cabeça’, isto é, o couro cabeludo e o cabelo, na expressão “lavar a cabeça”.
  •           à  situação de rapar o cabelo na metonímia, ‘rapar a cabeça’. Esta designação levou ao uso da expressão «cabeça rapada» (tens a cabeça rapada) e à nominalização da expressão em “Ele é um cabeça-rapada”. Esta designação encontra-se lexicalizada nos três dicionários consultados: nos dois dicionários de autoria brasileira, como designação exclusiva de «padre católico»; no Dicionário da Academia, como o nome que designa «individuo branco, geralmente com os cabelos rapados, que perfilha ideias neo-nazis e que habitualmente faz parte de grupos que manifestam um comportamento agressivo ou mesmo violento em relação a minorias étnicas. Foram abordados por um bando de cabeças-rapada.».
  •       Sem registo nos dicionários consultados, mas, com uma frequência de Resultados 1 - 10 de cerca de 896 para "cabeça raspada" (0,43 segundos),  na consulta avançada Google da Internet, surge a expressão “cabeça raspada”, para designar cabelo rapado, de que se citam dois exemplos: «cabeça raspada a zero por causa de seu papel em Laços de Família, ... É nele que Carolina aparece na praia, sempre linda, de cabeça raspada. ...»[76]; «... Brian, com sua cabeça raspada, o corpo bombado e tatuagens é o verdadeiro anticristo para as ... Mas é a sua imagem de corpo sarado e cabeça raspada? ...»[77],  «De cabeça raspada, Ana Maria Braga fala de câncer na televisão. da Folha Online A apresentadora Ana Maria Braga assumiu hoje no programa "Mais Você" um ...»[78].
            Comparando as duas expressões assinaladas, pode concluir-se:
1.     que “cabeça-rapada” tem um significado muito diferente no português de Portugal e no português do Brasil;
2.     que o brasileiro usa a expressão “cabeça raspada”  para a situação de corte de cabelo rente, “ à máquina zero”, enquanto o português não usa “cabeça raspada”, nessa acepção, mas “cabeça rapada”.
3.     que  a expressão “cabeça rapada”se construiu por metonímia com “cabelo rapado”, enquanto “cabeça raspada” se construiu por metonímia com “couro-cabeludo raspado”.
  •          à cabeleira: 
o   “cabeça encaracolada” por cabeleira encaracolada - Da Internet foram recolhidos os seguintes dados[79] e os exemplos: «... Ficou olhando a cabeça encaracolada, os anéis se despencando na nuca que pedia carícia. Me dá sua mão que eu ajudo, ele disse e recuou: um inseto ...»[80]
o   “cabeça loura” [81] por cabeleira loura: Exemplo: Jornal de Poesia - Fernando Pessoa «... O sol doirava-te a cabeça loura. O SOL DOIRAVA-TE a cabeça loura. És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora. Remetente : Angela Campanha ...».[82]
  •         à forma da cabeça, incluindo todo o conjunto da parte superior do corpo humano, por exemplo na expressão “cabeça clássica”.[83] Exemplos: « O Uso de Metáforas na Computação Formato do ficheiro: PDF/Adobe Acrobat «... cabeça clássica esculpida na parede de uma. espécie de galpão».[84]
  •         à categorização das aves pela cor da cabeça, à semelhança do que se passa com a cabeça humana e a sua cabeleira, isto é, designa-se a ave pela cor da  penugem da cabeça. Citam-se alguns exemplos recolhidos na pesquisa avançada Google: peto de cabeça cinzenta, sabiá-de-cabeça-cinzenta, urubu-de-cabeça amarela, Picapau de cabeça amarela, dançador-de-cabeça-dourada, tangará-de-cabeça-encarnada, tangará-de-cabeça-vermelha, azulão-de-cabeça-encarnada, azulão-de-cabeça-vermelha, azulão-do-campo, (cabeça-de-velha, etc.

                     Poder-se-á concluir que a acepção metonímica de ‘cabeça’ em análise, neste ponto 2.3., é de grande recorrência e contém os ingredientes necessários à inovação, sobretudo na parte que depende da adjectivação relacionada com a cor e a forma dessa parte da cabeça; facto que a ser investigado à exaustão, tornaria o trabalho interminável.
              2.4. «cabeça - caixa óssea que protege o encéfalo nos vertebrados. = Crânio»

Esta acepção, retirada do Dicionário da Academia, origina uma série de expressões que se estendem do domínio do sentido real ao domínio do sentido figurado.
Com o sentido real, significando fracturar o crânio é frequente dizer-se “partir a cabeça”[85]. Exemplo: «Que são perigosos, que as crianças podem cair e partir a cabeça, ou um braço, ou uma perna».
Contudo, é no sentido figurado que a expressão tem uma grande frequência[86]:
  •        Com o sentido de ‘grande dificuldade: «Um jogo para partir a cabeça. Se descobres sempre os caminhos, então vê se não te consegues perder!!!»; «Para deixar de partir a cabeça quando monta cabos de rede, obtenha este aparelho mais...»; « Arranja um tema que dê para te partir a cabeça».
  •        Com o sentido de ‘magoar-se ao embater nas dificuldades da vida’: «Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas. E ser levado da rua cheio de sangue Sem ninguém saber quem eu sou! ...»; «Que ele, quando partir a cabeça, há de fazer justiça à tua irmã.».
  •        Com o sentido de ‘rir intensamente’: «Estive uns bons 10mnts a partir a cabeça de tanto rir Madboy&Helena bem já a muito tempo que não perdia a postura assim a rir me tanto os meus colegas ...».
  •        Com o sentido de ‘aborrecer muito’: « só se for para a minha mãe me partir a cabeça...».
  • ·       Numa frase de forma negativa, com o sentido de ‘não se incomodar’, ‘não se esforçar muito’: «os comentários não funcionam e eu não faço ideia porquê, nem sequer percebo nada disto e não vou partir a cabeça».
  •        A expressão sinónima de partir a cabeça é “quebrar a cabeça”. Registaram-se os seguintes exemplos:[87]
o   «... quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a cabeça diariamente). ...»
o   «Clique aqui para ver Charadas: Para Você Quebrar a Cabeça,»
o   «Tangram um jogo de quebrar a cabeça - 5ª série»
o   «Reader permite que você acesse seus sites favoritos sem quebrar a cabeça com senhas.»
  •        Ligado ao sentido de "quebrar a cab, existe o nome “quebra-cabeças” - jogo de grande dificuldade, para desafiar alguém a resolvê-lo.
·       Provérbio: «Quem em pedra duas vezes tropeça, não é muito quebrar a cabeça.».[88]Este provérbio costuma ser dito em Portugal: Quem na mesma pedra duas vezes tropeça, merece quebrar a cabeça. Pretende significar que, encontrada a dificuldade, é preciso resolvê-la, para não voltar a tropeçar nela. E o sentido viaja do sentido real para o sentido figurado e vice-versa num percurso metafórico da constatação do real e do figurado. Nos provérbios essa constatação tem que ser evidente, para que a lição seja clara, para o maior número de receptores.

2.5. cabeça – pessoa ou animal considerados  numericamente.           

 A acepção registada é do Dicionário da Academia, que apresenta os seguintes exemplos: «A despesa é de mil escudos por cabeça[89]. cabeça de gado»[90]. Os dois dicionários brasileiros consultados também registam a acepção. Assiste-se à conceptualização da parte pelo todo (a cabeça designa todo o ser humano ou animal), um dos processos metonímicos de grande rentabilidade significativa e de uso muito frequente.

2.6. A “cabeça” nas expressões
            Reúnem-se, nesta parte do trabalho, expressões registadas nos dicionários consultados, com o item lexical integrado. A palavra surge como metáfora do domínio origem conceptualizada como o contentor da inteligência, projectada no domínio alvo significando abstracções tais como inteligência, memória, juízo, emoção, opinião, amor-próprio. A palavra “cabeça” abarca as capacidades cerebrais, numa conceptualização metonímica.
1)     É uma cabeça! – diz-se de uma pessoa dotada de grande inteligência, com provas dadas.
2)     É uma cabeça-de-alho-chocho, de abóbora, de nabo, de burro, etc. – expressões já referidas e outras com estrutura semelhante: 
3)     «É um rapaz muito ajuizado e com cabeça»[91] – significa que o dito sujeito merece confiança, pois reúne juízo e inteligência.
4)     Tem uma boa cabeça. – reúne bom senso e inteligência.
5)     «Já não tenho cabeça para isto»[92] - o sujeito da enunciação confessa que já foi capaz de fazer determinada operação mental, mas que deixou de ser capaz de a fazer, reconhecendo o facto no momento em que profere o enunciado. “Cabeça” expressa o conteúdo (capacidades cerebrais).
6)     Resolve o assunto de cabeça fria – com bom senso e sem emoção.
7)     Resolveu o assunto de cabeça quente e foi um discussão… – a emoção comandou a resolução do problema.
8)     Perdi a cabeça e dei-lhe uma bofetada. – reconhece-se que a emoção descontrolou a acção do sujeito.
9)     “Depois de falar com o padre, apareceu-me de cabeça completamente virada. Ele fez-lhe a cabeça.” A expressão ‘cabeça virada’ significa mudança total de opinião e “fazer a cabeça” é convencer alguém de outras opiniões, o que implica uma mudança  completa e notória.
10) Andas com a cabeça à razão de juros e não aprendes nada – a expressão significa que a pessoa em causa anda desnorteada, sem concentração (o mesmo que “cabeça no ar”).
11)  Agora é levantar a cabeça e andar para a frente!” ou “ Cabeça erguida! P’rá frente é que é o caminho!” – encorajamento depois de um acontecimento deprimente.
12) Andas de cabeça baixa, não te impões… – recriminação pela atitude demasiado humilde.
13) Pôs-lhe a cabeça em água. – consumiu, arreliou alguém.
14) Aquele rapaz é a dor de cabeça daquela mulher. – é a sua consumição.
15) Ouviu aquilo e caiu-lhe a cabeça aos pés. – ficou estupefacto e decepcionado.
16) Teve sorte, apesar de se ter atirado de cabeça naquele empreendimento… - iniciar um empreendimento sem medir as implicações e as consequências, arriscando.
17) Mais tarde, levou na cabeça, as coisas não correram bem. – sofreu as consequências desastrosas, por similaridade com levar uma pancada na cabeça.
18) Meteu a matéria toda na cabeça com a maior facilidade – ‘cabeça’ é o termo percepcionado como o contentor da sabedoria, onde é possível meter o conhecimento, por similaridade com os contentores concretos do mundo real. «Tinha na cabeça o poema todo».[93] Por antinomia, afirma-se “ não lhe entrou nada na cabeça”.
19) Mas afinal que tens tu na cabeça? Nada. É isso, não tens nada na cabeça. Onde estão os teus miolos? Perdeste-os? Sua cabeça oca! – a cabeça é concebida como um recipiente que ou está cheio ou está oco/vazio, sem nada dentro.
20) Andas de cabeça cheia… quem te meteu essas minhocas na cabeça? – o recipiente cabeça está cheio de ideias consideradas pelo locutor como erradas
21) Onde andas com a cabeça? Põe a cabeça no sítio[94], senão estás perdido – pôr a cabeça no sítio ou no lugar[95] significa ganhar juízo, pôr as ideias em ordem.

III. Conclusão
            Em Linguística Cognitiva, a polissemia é um fenómeno de categorização prototípica, isto é, os vários usos do mesmo item lexical estão organizados à volta de um centro prototípico, derivando por parecenças de família em relação ao núcleo.
            O desafio dos efeitos de prototipicidade impõe-se para terminar numa tentativa de operacionalização, a partir da imagem esquemática das características da prototipicidade, proposta por Augusto Soares da Silva[96].


EXTENSIONALMENTE
(a nível referencial)
a polirreferência de “cabeça”
INTENSIONALMENTE
(a nível dos significados – polissemia)
não-igualdade (entre os elementos da categoria cabeça)

centros prototípicos:
1. cabeça – extremidade dilatada e/ou arredondada de um corpo.

2. cabeça - parte de cima, parte superior de alguma coisa

3.cabeça – o que é mais importante, o que está em primeiro lugar.

4. cabeça - caixa craniana, coberta pelo couro-cabeludo e pelo cabelo, que contém o cérebro.


(1)Graus de representatividade:
1.cabeça humana,
cabeça animal, …
cabeça de um osso
cabeça de um órgão
cabeça do dedo
cabeça de prego, de taxa, de alfinete…
cabeça de nabo, de alho, de cebola
cabeça da pedra,
cabeça de cachimbo
2.cabeça da carta
cabeça de página
cabeça da lista
cabeça do livro
cabeça da cachoeira
cabeça da trilha
cabeça do cortejo
cabeça da manifestação
cabeça da coluna militar
cachaça da cabeça
3.cabeça de casal
cabeça de cartaz
cabeça da equipe
cabeça do grupo
cabeça da notícia
cabeça do lema
cabeça de lista
cabeça de série
cabeça da comarca
cabeça da diocese
cabeça do distrito
cabeça do concelho
cabeça da freguesia
4. cabeça-rapada
sabiá-de-cabeça-cinzenta,
urubu-de-cabeça amarela
quebra-cabeças

(2)Agrupamento de significados em “parecenças de família” e sobreposições

1. AB 
a) cabeça humana e de animal ;
b) cabeça de objecto com extremidade superior arredondada/dilatada(de prego, de taxa, de alfinete, do cachimbo, cabeça da pedra, …);
c) cabeça de vegetal com extremidade arredondada e dilatada de onde saem raízes (cabeça de nabo, de alho, de cebola);
2. BC  
a) parte superior de uma página ou de um livro (da página, da lista, da carta…)
b) a primeira parte de uma coluna (de pessoas, de líquido)

3. CD pessoa ou algo destacada/o pela sua importância;

4. DE - o crânio: o seu interior e a sua cobertura.

 não-discrição
 a flexibilidade desses elementos e dessa categoria e as dificuldades de demarcação daí resultantes.
“cabeça”- item lexical de grande flexibilidade cobrindo vários campos lexicais. E pode-se sempre ser cabeça de qualquer coisa.



(3)flutuações nas margens de uma categoria, ausência de limites nítidos.
“cabeça” - item lexical sem limites nítidos (com necessidade de um complemento restritivo para definir o tema, situador na referência).
 (4) impossibilidade de definições em termos de condições necessárias e suficientes.

      O quadro usado por Augusto Soares da Silva, da autoria de Geeraerts, envolve as quatro características prototípicas, decorrentes da correlação de duas dimensões: por um lado, da dimensão da não-igualdade entre os referentes, os seus significados e respectivas propriedades de um item lexical (aplicado neste caso a “cabeça”), isto é, os seus diferentes graus de saliência e a estrutura interna da categoria sob  a forma de um centro e uma periferia, e a não-discrição, ou seja a flexibilidade desses elementos e dessa categoria e as dificuldades de demarcação daí resultante; por outro lado, a distinção entre o nível extensional ou referencial e o nível intensional dos significados e da sua definição de um item lexical[97].
      Reflectindo sobre o quadro, exercício polémico, que servirá como fonte das questões que se apresentam.
  1. “Cabeça” é um item lexical monossémico ou polissémico?
Se ouvíssemos a frase gritada, vinda do exterior e descontextualizada, «Tragam-me mais uma cabeça», em situação exemplar de estarmos fechados no escritório, muitos significados de “cabeça” nos surgiriam: «Cabeça de gente não podem pedir, de animal também não, que poderá ser? Prego não se pede vulgarmente por cabeça… Saímos e vamos ver o que se passa. Encontramos um grupo de mulheres a encabeçar alhos. Alguém pediu mais uma cabeça de alho para aquele molho».
            A primeira “cabeça” que pode ocorrer, ao ouvir a frase, é a cabeça humana e salta a imagem de Salomé pedindo a cabeça de S. João Baptista. Mas logo ocorrem outras cabeças mais próximas da cultura e da civilização em que se vive, nas quais não se pede uma cabeça humana, a não ser em sentido figurado e muito raramente. É a não-discrição ou a  flexibilidade da palavra  “cabeça” que permite flutuar pelos seus vários sentidos, em busca do mais apropriado. E o critério em termos de variação externa e em termos de condições necessárias e suficientes, vai rejeitando ou aceitando este ou aquele sentido por mais adequado. Todavia, é a situação em que é produzido o discurso, isto é, o contexto situacional, que vai iluminar o real sentido da expressão.
            Este acontecimento linguístico, ainda que forjado, permite verificar a importância do contexto na atribuição do significado, um dos princípios da Linguística Cognitiva, de onde decorre a importância da recolha da linguagem-no-uso, e do uso da intuição do falante.
            Augusto Soares da Silva responde à questão formulada, definindo polissemia do ponto de vista do critério aristotélico: «a impossibilidade de uma única definição, maximamente genérica e minimamente específica, é sinal de polissemia»[98].
            No presente trabalho, por polissemia do item lexical “cabeça” entende-se o significado múltiplo das expressões linguísticas em que esse item está envolvido, constituindo expressões sintácticas lexicalizadas ou compostos morfo-sintácticos lexicalizados, de acordo com os dicionários consultados e enquadrados na  linguagem-no-uso.
  1. A polissemia da palavra “cabeça” depende do sintagma preposicional?
a)     Atendendo à importância do aparato do corpo na experiência humana e, em consequência disso, na construção do conhecimento, a parte superior do corpo humano designada por “cabeça” é um produtor de sentido, concebido cognitivamente. Para isso, o nome “cabeça” necessita de se relacionar lexicalmente com outro nome e é por isso seguido de um “complemento determinativo” ou “restritivo” em de, que não sendo verdadeiro argumento, ocupa a posição de argumento.[99] Esse outro nome que restringe o campo lexical de “cabeça” reveste-se da maior importância, uma vez que introduz o nome “cabeça” em outro tema, para designar um outro referente, que terá algo de comum com o primeiro sentido ‘cabeça humana’ (+ ou – dilatada ou arredondada; extremidade nem sempre superior; a primeira; a mais importante).
b)     Olhando para o quadro verifica-se que “cabeça de x” –– em que x é a variável do referente no eixo paradigmático – é um item lexical e como tal foi tratado, não obstante a consciência linguística da sua formação.
3.     Ser cabeça ou não ser cabeça?
A parte mais dilatada do prego é cabeça, o nabo é cabeça, o primeiro parágrafo de uma notícia é cabeça, o primeiro nome de uma lista é cabeça, Braga é cabeça de diocese e de distrito, pessoa que lidera é cabeça, o estúpido é cabeça-de-burro…
Que sentido une estas cabeças?
Ser extremidade? Nem sempre…
Ser importante? Nem sempre…
Ser o primeiro? Nem sempre…
            Estamos perante os efeitos da não-discrição: extensionalmente, as flutuações nas margens de uma categoria, sinal de ausência de limites precisos; e intensionalmente, a impossibilidade de definições em termos de um grupo de propriedades individualmente necessárias e conjuntamente suficientes.
  1. Quais as características da prototipicidade manifestadas na palavra “cabeça”?
A não-igualdade manifesta-se 
  • extensionalmente nos diferentes graus de representatividade entre os membros da categoria lexical “cabeça”, sendo uns mais representativos do que outros. (Qual a cabeça mais representativa? Depende do contexto. Uma cabeça de nabo pode ser mais representativa para uma boa sopa que o cabeça de lista de deputados, que a poderá comer ou não.  Espera-se que não seja um cabeça-de-nabo.)
  •  Intensionalmente, no agrupamento de significados diferentes por “parecenças de família”.
A não-discrição tem também dois efeitos:
  • ·       Extensionalmente, pode apresentar ausência de limite preciso nas margens de uma categoria.
  •        Intensionalmente, pode apresentar a impossibilidade de definições em termos de um grupo de propriedades individualmente necessárias e conjuntamente suficientes.
Poder-se-á afirmar que “cabeça” apresenta as quatro características da prototipicidade? Parece que sim.

  1. Porque se chama cabeça a um determinado referente que não é cabeça, no sentido restrito da cabeça humana ou animal?
A resposta foi sendo dada ao longo do trabalho e não vai repetir-se, mas valorizar a construção da metáfora conceptual que do domínio origem ilumina o domínio alvo, projectando a imagem da cabeça e o correspondente item lexical para tudo aquilo que a ela se assemelhe, viajando assim o item “cabeça”, por contiguidade, para outros referentes. E, ainda, valorizar o contexto como construtor e decodificador dos múltiplos sentidos para uma só palavra, neste caso "cabeça", que, espero, tenha ficado no seu lugar, pois não convém «perder a cabeça».

Braga, 25 de Abril de 2005
Maria José Domingues




[1] Informação recolhida em Augusto Soares da Silva, «A Linguística Cognitiva – Uma breve introdução a um novo paradigma em Linguística», in CD-ROM, Anna J. Batoréo, Linguística Portuguesa Abordagem Cognitiva, Texto A.
[2] Ibidem, p.5.
[3] Augusto Soares da Silva, «O que é que a polissemia nos mostra acerca do significado e da cognição», in Linguagem e Cognição: A Perspectiva da Linguística Cognitiva, organizada por Augusto Soares da Silva, Associação Portuguesa de Linguística / Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia de Braga, Braga, 2001, pp.147-171.
[4] Texto A, op.cit., p.11.
[5] Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa., Academia das Ciências de Lisboa e Editorial Verbo, 2001. DACL passa a ser a sigla do Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa, no presente trabalho.
[6] Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986.NDA passa a  ser a sigla do referido dicionário, no presente trabalho.
[7] Augusto Soares da Silva, «O que a polissemia nos mostra do significado e da cognição», in Linguagem e Cognição, A perspectiva da Linguística Cognitiva , organização de Augusto Soares da Silva, Edição Associação Portuguesa de Linguística / Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia de Braga, Braga, 2001, p.166.
[8] Capuz deve remontar ao latim tardio cappucium, derivado de cappa, português capa, e não a capitium, cabeça, como aponta o Dicionário Houaiss. Questão controversa é a de saber se a palavra portuguesa tem origem directa no latim tardio ou se entrou por via castelhana ou italiana. Sob a forma de capuzo, está documentada por Ramon Lorenzo, no final do século XV.
[9] Cf. Pedro Machado, Dicionário Etimológico de Língua Portuguesa, Editorial Confluência, Lisboa, 1967; Ramón Lorenzo, Sobre cronologia do vocabulário Galego-português (anotações ao Dicionário Etimológico de José Pedro Machado), Editorial Galáxia, Vigo, 1968.
[10] Ernout et Meillet, Dictionnaire etymologique de la langue latine, Librairie C. Klincksieck, paris, 1959.
[11] Augusto Soares da Silva, «A Linguística Cognitiva. Uma breve introdução a um novo paradigma em Linguística», in CD-ROM, Hanna J. Batoréo, Linguística Portuguesa Abordagem Cognitiva, Texto A, p.10.
[12] Ibidem, p.5.
[13] Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa., op.cit., p.604.
[14] Os três exemplos em itálico foram recolhidos do Dicionário da Academia.
[15] Exemplos recolhidos da Linguateca.
[16] www.saudevidaonline.com.br/ossos.htm - 13k - Guardada em memória -
[17] members.tripod.com/themedpage/an_cranio.htm - 27k - Guardada em memória -
[18]members.tripod.com/themedpage/an_mbros-sup.htm - 39k - Guardada em memória - Páginas semelhantes
[19] www.saisanjeevini.com.br/ssc/31.htm - 7k - Guardada em memória
[20] www.xangosol.com/simpatias.htm - 36k - Guardada em memória -
[21]www.veraovermelho.com.br/receitas.htm - 13k - Guardada em memória -  
[22] portal.rt-leiriafatima.pt/ uk/egastronomicas.php?idreg=167 - 3k - Guardada em memória
[24] www.bragancanet.pt/ocardo/complecta.php3?id=598 - 12k - Guardada em memória
[25] www.taste.com.br/news/templates/ noticia.asp?idNoticia=2013 - 24k -
[26] Climbing Brazil, Dicas práticas, mgrego@geocities.com.
[27] www.gerdau.com.br/port/produtoseservicos/index.asp - 44k - 15 Abr 2005 - Guardada em memória
[28] http://www.coferonline.com.br/subprod9.htm
[29] Augusto Soares da Silva, «Sobre a estrutura da variação lexical», p. Web 4 de 8.
http://www.facfil.ucp.pt/lexicon2.htm
As informações contidas dentro dos parênteses rectos são da responsabilidade da autora do presente trabalho.
[30] www.terrabrasileira.net/ folclore/manifesto/adivinha.html - 6k - Guardada em memória
[31] www.bahia.ba.gov.br/seagri/Laranja.htm - 34k - Guardada em memória.
[32] www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/cro_medp.htm - 21k - Guardada em memória
[33] www.fmt.am.gov.br/material/arbo/dengue.htm - 12k - Guardada em memória

[34] www.milenia.com.br/internas/mm/alvo.asp?T=5 - 26k - Guardada em memória.
[35] members.fortunecity.com/asobrino/guestbook-h9-2.htm - 34k - Guardada em memória
[37] Câmara Brasil - Israel de Comércio e Indústria, www.cambici.com.br/html/infoc/infoc_tec_nano.htm - 16k - Guardada em memória
[38] celialamounier.portalcen.org/aperfeicao.htm - 5k - Guardada em memória
[39] Enciclopédia Britânica, www.arcadovelho.com.br/Britanica/EnciBrit.htm - 6k - Guardada em memória
[40] RIO TOTAL - ASTROS, www.riototal.com.br/astros/helga2001-11.htm - 8k - Guardada em memória

[41] www.paralerepensar.com.br/rbarbosa.htm - 21k - Guardada em memória
[42]www.brazzilbrief.com/viewtopic.php?t=11733 - 108k - Guardada em memória -
[43] www.proaves.org.br/aves/index3.htm - 38k - Guardada em memória
[44] www.giraldo.org/josehumbertohenriques/riso2.html - 116k - Guardada em memória -

[45] mail.uevora.pt/pipermail/ambio/2004-October/001071.html - 4k - Guardada em memória
[46] www.brazzilbrief.com/viewtopic.php?t=17181 - 62k - Guardada em memória -
[47] barnabe.weblog.com.pt/ privado/comenta.cgi?entry_id=51243 - 17k - Guardada em memória

[48] www.instituto-camoes.pt/cvc/exercicios/index1.html - 33k - Guardada em memória -
[49]www.instituto-camoes.pt/ cvc/exercicios/exprdia/exp10-2.html - 2k -  
[50] www.coiso.net/melhor_cabeca.html - 23k - Guardada em memória
[51] www.supridad.com.br/assinantes/jrdias/sobre.html - 5k - Guardada em memória

[52] www.angelfire.com/sk/holgonsi/identidade.html - 20k - Guardada em memória   

[53] www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/dic_c.htm - 87k - Guardada em memória
[54] Augusto Soares da Silva, «O poder cognitivo da metáfora e da metonímia», in revista Portuguesa de Humanidades, vol.7, Fasc.1-2, Dez.2003, in CD-ROM, Anna J. Batoréo, Linguística Portuguesa Abordagem Cognitiva, Texto E, p.15.

[55] Dicionário da Academia, op.cit,. «Via-se um moinho na cabeça do monte. Cabeça do elevador. Cabeça do arado. cabeça do leite , a nata»
[56] www.dcc.ufam.edu.br/~ruiter/icc/icc14.html - 18k - Guardada em memória
[57] www.horadopovo.com.br/2004/marco/30-03-04/pag3f.htm - 10k - Guardada em memória

[58] www.excursionismo.com.br/raveinhas.htm - 34k - Guardada em memória -
[59] www.terraeasfalto.com.br/destinos/prudentopolis/ - 19k - 19 Abr 2005 - Guardada em memória

[60] fotolog.terra.com.br/lari - 15k - Guardada em memória - Páginas semelhantes
[61] www.cachacaorganica.com.br/producao.htm - 20k - Guardada em memória -
[62] www.museudacachaca.com.br/produ.html - 8k - 19 Abr 2005 - Guardada em memória -
[63] Pesquisa avançada Google:
Resultados 1 - 10 de cerca de 130 para "cabeça de comarca". (0,28 segundos) 
O MP NO DISTRITO JUDICIAL DE LISBOA ::. - Contactos - Índice ...
... de círculo de jurados na Vila de S. Roque (que era cabeça de comarca) e
compreendia três julgados (Vila das Lages, Vila de Madalena e Vila de S. Roque). ...
www.pgdlisboa.pt/pgdl/distrito/ modelounidade.php?comarca=pico - 40k - Guardada em memória - Páginas semelhantes
[64] DACL, op.cit., “cabeça de comarca” encontra-se registada na acepção 2.7., no citado dicionário, pareceu-nos contudo que o seu lugar poderia ser em 2.6. uma vez que envolve uma cidade ou um concelho e lhe dá importância judicial na circunscrição.
[65] Pesquisa avançada Google:
Resultados 1 - 10 de cerca de 25.500 para cabeça de concelho. (0,20 segundos) 
Historial
... O concelho de Fafe, antes denominado Monte Longo, é uma «construção» medieval,
... tinha como cabeça de concelho Santa Ovaia ( Eulália ) Antiga, ...
www.cm-fafe.pt/23 - 11k - 21 Abr 2005 - Guardada em memória - Páginas semelhantes
[66] DACL.
[67] Pesquisa avançada Google: Resultados 1 - 10 de cerca de 97.600 para cabeça de distrito. (0,17 segundos) 
VISEU.NET - Portal do Distrito de Viseu
... valorizando-ao privilégio da localização central no planalto beirão, os foros
administrativos de capital de província e cabeça de distrito, ...
www.viseu.net/cidade.php3 - 18k - Guardada em memória - Páginas semelhantes

[68]  Pesquisa avançada Google:Resultados 1 - 10 de cerca de 12.100 para cabeça de diocese. (0,27 segundos) 
Diocese - A sua Fundação
... A escolha da vila de Miranda para cabeça da diocese obedeceu a factores e
ordem política, ... ea pedido de D. João tornou-a cabeça de Diocese. ...
www.bragancanet.pt/arte/diocese.htm - 6k - Guardada em memória - Páginas semelhantes

[69] Resultados 1 - 10 de cerca de 13 para "cabeça de freguesia". (0,50 segundos).
opiniao218
... do ponto em as povoações costumam ser elevadas a cabeça de freguesia, e de,
... para a próxima elevação da povoação da Arroteia a cabeça de freguesia. ...
www.geocities.com/Paris/Lights/2096/opiniao232.htm - 17k - Guardada em memória
[70] Resultados 1 - 6 de cerca de 10 para "cabeça da notícia". (0,29 segundos)
CorreioEscola
...
(CABEÇA DA NOTÍCIA). O lead (1º parágrafo), (abertura da notícia), concentra
o maior número de informações para facilitar uma leitura rápida. ...
www.correioescola.com.br/glossario.html - 15k - Guardada em memória - Páginas semelhantes

[71]Resultados 1 - 10 de cerca de 742 para "cabeça de casal". (0,94 segundos).
Portal do Cidadão - Informação adicional sobre Falecimento
Cabeça de Casal
... Ao cabeça de casal compete fornecer os elementos
necessários para o prosseguimento do inventário. Pode ser cabeça de casal: ...
www.portaldocidadao.pt/PORTAL/pt/cidadao/ situacoes+de+vida/falecimento/INF_FALECIMENTO_CABECA+DE+CASAL.htm - 35k -
[72] Resultados 1 - 10 de cerca de 30 para "cabeça da equipa". (0,30 segundos)
Jornal de Notícias - Couceiro preso pelo título
... À cabeça das mudanças estará a... cabeça da equipa técnica liderada por José
Couceiro. Mas, contrariamente a certas notícias que davam o treinador como ...
jn.sapo.pt/2005/04/14/desporto/ couceiro_preso_pelo_titulo.html - 35k -
[73] DACL.
[74] Idem, ibidem.
[75] As rupturas do couro cabeludo distinguem-se das fracturas cranianas e são mais frequentes.
[76] www.loiras.com.br/materias/desinibidas-virtuais.asp - 13k - Guardada em memória
[77] www.geocities.com/punk_sjc/efview2.htm - 22k - Guardada em memória
[78] www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u16873.shl - 16k -
[79] Google, Pesquisa Avançada: Resultados 1 - 10 de cerca de 13 para "cabeça encaracolada". (0,32 segundos)
[80] www.geocities.com/tampo_8/contos/lygia-mao-ombro.html - 20k - Guardada em memória
[81] Internet Google, pesquisa avançada da expressão: Resultados 1 - 10 de cerca de 168 para "cabeça loura". (0,52 segundos). 
[82] www.secrel.com.br/jpoesia/fpessoa300.html - 2k - Guardada em memória -
[83] Internet Google Pesquisa avançada da expressão: Resultados 1 - 10 de cerca de 13 para "cabeça clássica". (0,45 segundos).
[84] www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27143/ tde-06052004-193951/publico/O_Uso_de_Metaforas_na_Computacao.pdf - Páginas semelhantes
[85] Os exemplos registados são retirados da linguagem no uso de sites das Internet, na pesquisa avançada Google da Internet.
[86] Os exemplos que se seguem são retirados da pesquisa avançada do motor de busca Google, para a expressão “partir a cabeça”.
[87] No mesmo local, para a expressão “quebrar a cabeça”.
[88] Provérbios Portugueses e Brasileiros - Q6 www.kocher.pro.br/port/port_q06.htm - 66k -
[89] Resultados 1 - 10 de cerca de 10.600 para "por cabeça". (0,67 segundos).Regista-se o exemplo: «começa com 1.100 bezerros pesando em média 6 arrobas (180kg) por cabeça. ...A média de ganho por cabeça a cada mês é de 0,8 arrobas (24 kg). ...»
www.agbrazil.com/p/cattle_production.htm - 28k - Guardada em memória -
[90] Na busca de «cabeças de gado», obteve-se o seguinte resultado: Resultados 1 - 10 de cerca de 14.000 para "cabeças de gado". (0,25 segundos).
[91] DACL.
[92] Idem, ibidem.
[93] Idem, ibidem.
[94] Resultados 1 - 4 de 4 para "pôr a cabeça no sítio". (0,37 segundos) Pensar é estar doente dos olhos: março 2005 Archives  «... que saudades da calma... as vezes faz falta uns tempos sozinhos pra por a cabeça no sitio nao? a mim faz.» kidagakash.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_03.html - 13k - Guardada em memória -

[95]Resultados 1 - 10 de cerca de 226 para "pôr a cabeça no lugar". (0,33 segundos) O DIÁRIO Internet >> Opinião >> ... Em última análise, Dirceu exortou o PT a manter os pés no chão e pôr a cabeça
no lugar quando disse que a reeleição de Lula não está garantida por ...
www.odiarionf.com.br/12042005/opiniao/dora.html - 8k - Guardada em memória

[96] A tabela utilizada foi retirada de Augusto Soares da Silva, A Semântica do verbo deixar – uma contribuição para a Abordagem Cognitiva em  Semântica Lexical, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, Braga, 1999, p.30.
[97] Idem, ibidem.
[98] Ibidem, p.32.
[99] Maria Helena Mira Mateus e al., Gramática da Língua Portuguesa, 6ªedição, Editorial Caminho, Lisboa, 2003, p.331.