domingo, 27 de dezembro de 2015

PENÉLOPES




 

Bordo o avesso da colcha que cobre a vida
Um ponto atrás do outro em pé de flor silvestre
Jardim singelo por onde a agulha passeia
Em trabalhos de mulher  penélope tece a manta
Da espera ardilosa de um tempo a preencher
Canta a cotovia depois a cigarra
Pia o pardal cai a neve e é natal e há-de ser verão
Talvez o vejas ou não

poesia zed


Anna Ancher (artista Danes, 1859-1935) La Esposa del Pescador de Costura

PENÉLOPE

Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral , Potugália Editora, p.80