domingo, 5 de junho de 2016

passarinhando



 Saltitando a debicar
Texto aqui texto ali
Ao agarra-agarra
Joga sem parar
E passa a ceifeira
sempre a cantar

Tocam pandeiretas
No silêncio a vibrar
Ó formosa Andaluzia
Rodopiam saias mil
O vermelho a tourear

Passarinhando
De galho em livro
Casa Anto e Pessoa
De braço dado
A declamar
À porfia
Um diz primeiro
O outro absorve
E o mito a exalar

Poesia zed 8 de Dez de 2015

PENÉLOPE



Em Ítaca dos meus sonhos
Sou Penélope tecendo os dias da longa espera
E o mar azul de tão grego entra no escuro do meu olhar
Apaziguando a chama do meu desejo por Ulisses o esperado

Partiu contrariado o pacífico rei
O de mil artifícios com desejo de regresso
Aventuras e desventuras sem fim
Fizeram dele guerreiro
E o sangue dos pretendentes regará o chão da ilha fértil
Num combate sem fim à vista

Sou Penélope a esperançosa do amor e da paz na certeza da guerra

Poesia zed, 27 novembro 2016

Agosto



 Tempo branco de suspiros feitos com as ondas claras
Buraco no tempo sem hora nem desora
Açúcar a derreter em palato luxuriante no calor de Agosto
A arrefecer a contragosto dos corpos insatisfeitos
Mergulhados em água azul de peixes e alforrecas
A desmaiar flacidamente na areia dourada.

Brincam as crianças
Voam os olhares
Esquece-se a vida
Na busca do instante
Na foto no vídeo
Agarra que agarra
O tempo a fugir
Canta a cegarrega
Não quero dormir
Em filigrana se tece
O dia a dia a sorrir

Vestem-se de afetos
Fatos a rigor
A trama é delicada
Cuidado não rasgues
Causa muita dor.

2015
poesiazed

Santa Ignorância



Abaixo as escolas todas
Eu não quero aprender nada
Apenas existir

Dar pontapés às pedras
Quero lá saber o que são pedras

Estender-me ao Sol
Quero lá saber o que ele é
É quente
É dourado
Ilumina-me

Assobiar à Lua
Sem saber nada sobre ela
Apenas lua
Apenas luar
E eu a olhar

Dez dedos nas mãos
E já sei contar
O resto a máquina
Que alguém inventou
Não sei quem e não quero saber
Garanto que não fui eu

Como a preguiçosa e lesta lagartixa
Como os cães vadios na época do cio
Eu quero viver

Direito a ser bicho
Carago

Racional mas pouco
Tão pouco
Poucochinho
Como o meu ratinho

Poesia zed, 4/11/2015

A abelha sem asas


Nascera sem asas
Voar não podia
Sem préstimo
Expulsa seria

A menina viu-a
A cobrir o chão
Meteu-a no livro
Um belo caixão
As letras entraram
No corpo doirado
Ai que comichão

Assim imbricadas
Para todo o sempre
O livro seria
Casa permanente

Poesia zed 3 de set 2015