terça-feira, 17 de setembro de 2019

O SACO


O saco
Vinha de longe carregada com um saco. Os anos tinham-na desgastado, a ela e ao saco.  Embora quase vazio, via-se que pesava naquela cerviz abaulada. Perguntava-se que traria ela no saco. Ninguém sabia. Se lhe perguntavam, ela mudava de conversa. Se lhe ofereciam ajuda para o transportar, ela apertava-o contra si. Jamais o abandonava, nem a dormir.

Certamente é o saco das recordações da sua longa vida. Talvez – alvitravam.

A caminheira passava na aldeia uma vez por ano. Parava no cemitério e continuava viagem. Durante uns dias falavam dela e do seu saco intrigante.
Certo dia de inverno, chegou mais tarde e adormeceu sobre o mármore rosa da campa fria. A noite gélida desceu sobre ela e, lentamente, enregelou-a.

A primeira cuidadora a chegar deparou-se com o cadáver e o saco aberto e vazio. Pretendendo encontrar uma pista decifradora do conteúdo secreto, teve o cuidado de virar o saco do avesso e sacudir com força, ajudada pelo vento forte, que o desfez e o levou.

17 de setembro 2019
mjlad