terça-feira, 13 de abril de 2010

O INSTANTE

 Heraclito: «Não é possível descer duas vezes no mesmo rio nem tocar duas vezes numa substância mortal no mesmo estado; pela velocidade do movimento, tudo se dissipa e se recompõe de novo, tudo vem e vai».

Frederico Nietzsche, Assim Falava Zaratustra: «Olha esta poterna, gnomo, disse-lhe ainda. Ela tem duas saídas. Dois caminhos se juntam aqui; e ninguém jamais os seguiu até ao fim. [...] Estes caminhos opõem-se; chocam de frente e é aqui, sob esta poterna, que se encontram. O nome da poterna está inscrito no frontão, e esse nome é: Instante.»

Sophia de Mello Breyner Andresen - «A Viagem»: 
«[...] E, dentro do carro que os levava, a mulher disse ao homem:
- É o meio da vida.
Através dos vidros, as coisas fugiam para trás. As casas, as pontes, as serras, as aldeias, as árvores e os rios fugiam e pareciam devorados sucessivamente. Era como se a própria estrada os engolisse.»
 
 
«O instante toca-nos (ou somo-lo) a um tempo com uma leveza de sonho e um excesso que nos desfaz. […] Sá-Carneiro diria gloriosamente dele que é aquela manhã tão forte que nos anoitece. […] O essencial Instante é circunscrito pela vertigem e pela claridade. E ao mesmo tempo reduzido a um ponto só» (LOURENÇO, Eduardo, 1974 – Tempo e Poesia, Porto, Editora Inova, pp39-46).

«— E como erguer o instante, volvê-lo perdurável?
De mil formas, como de mil formas o artista de génio executa a sua arte» (Mário de Sá-Carneiro - O Fixador de Instantes).

INSTANTE

A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro
A pastar ao de leve;

Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.

Miguel Torga (30 de Setembro de 1941)