segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

“Governar para as elites – Sequestro Democrático e Desigualdade Económica”

De entre recortes de jornais por tratar, destacava-se o ensaio, publicado no semanário Expresso de 11 de Janeiro, «A democracia na Europa de hoje» de Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, que esteve em Portugal para debater os problemas mundiais, nomeadamente, aqueles que respeitam à «transformação da democracia que actualmente encaramos na Europa». A primeira questão abordada pela perplexidade despertada nos «cientistas políticos» respeita ao paradoxo - «indiferença política crescente e envolvimento intensificado» – «a síndrome do ‘pós-democracia’». E explica que a globalização, especialmente do sistema de mercados financeiros, iniciada nos anos 70, colocou esses mercados fora do alcance da regulação nacional. Em consequência, o gasto público reduziu-se e foi reforçada a desigualdade social.
A propósito da desigualdade social, refira-se o relatório da Oxfam com o título “Governar para as elites – Sequestro Democrático e Desigualdade Económica”, apresentado no fórum económico mundial de Davos - 1914, que apresenta conclusões terríficas acerca da desigualdade social (dados recolhidos nos semanários Expresso e Sol):
1.       as 85 pessoas mais ricas do mundo concentram tantos recursos como a metade mais pobre da população mundial;
2.      a concentração de 46% da riqueza em mãos de uma minoria supõe um nível de desigualdade "sem precedentes" que ameaça "perpetuar as diferenças entre ricos e pobres até as tornar irreversíveis";
3.      os cerca de 1% dos mais ricos aumentaram os rendimentos em 24 dos 26 países para os quais os dados estão disponíveis entre 1980 e 2012 e sete em cada dez pessoas vivem em países onde a desigualdade económica aumentou nos últimos 30 anos;
4.      os cerca de 1% dos mais ricos na China, em Portugal e nos Estados Unidos mais do que duplicaram os rendimentos nacionais desde 1980 e mesmo nos países com a reputação de serem mais igualitários como a Suécia e a Noruega, a riqueza dos 1% mais ricos aumentou 50% no período em referência;
5.      há 18,5 biliões de dólares (13,6 biliões de euros) não registados e em países terceiros de baixa tributação, pelo que na realidade a concentração de riqueza é muito maior;
6.      210 pessoas juntaram-se em 2013 ao clube dos multimilionários cuja fortuna é superior aos mil milhões de dólares, formado por um conjunto de 1.426 pessoas que concentram uma riqueza 5,4 biliões de dólares (quase quatro biliões de euros):
7.      este aumento das desigualdades deve-se em grande parte à desregulamentação financeira, aos sistemas fiscais e às regras que facilitam a evasão fiscal.

Estes são dados incontornáveis por serem verificações. O mal-estar sentido politicamente pelo cidadão comum tem esta base alarmante. Melhora-se com o esclarecimento, para que se possa avançar na acção. Mas que acção? Voltaremos ao assunto com Habermas.

2 comentários:

  1. As elites com visão e capazes de provocarem um choque nos governantes que insistem em empobrecer este País, desapareceram ou nunca existiram. E o Povo ainda não acordou. Comprei, hoje, FNAC, livro do Habermas, Um Ensaio sobre A Constituição da Europa, com Prefácio de Gomes Canotilho. Vamos ler e debater!

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